Família pagou R$ 2,5 milhões a seqüestradores

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Por Agencia Estado
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O empresário Roberto Benito Júnior, diretor da rede de Lojas Cem, de 35 anos, foi libertado na madrugada desta quarta-feira depois de ser mantido em cativeiro durante 120 dias por uma quadrilha de seqüestradores. A família pagou, na última segunda-feira, um resgate de R$ 2,5 milhões. Segundo a polícia, foi o mais longo seqüestro ocorrido no Brasil. Benito Júnior foi rendido e levado às 18h30 do dia 2 de outubro, perto de sua casa, no centro de Salto, a 98 quilômetros de São Paulo. Seu carro, um Ômega, foi perseguido e fechado por três veículos e teve o pára-brisas arrebentado a golpes de machado. A família chegou a temer que ele estivesse morto, pois os seqüestradores demoravam a fazer contato. Benito Júnior foi abandonado em uma estrada rural por volta das 3 horas desta quarta-feira. No escuro, caminhou cerca de 12 quilômetros até chegar, 1 hora e meia depois, à localidade de Bueno Brandão, no sul de Minas Gerais, de onde ligou para os familiares. O empresário chegou em Salto às 11h20 e foi direto para casa, o edifício Belvedere, na região do Parque Bela Vista. Da sacada do apartamento, no 5º andar, com a filha de quatro anos, acenou para as pessoas. O delegado seccional de Sorocaba, Everardo Tanganelli Júnior, que o acompanhou na viagem, disse que ele estava bem fisicamente. "É uma pessoa forte, pois suportou de forma corajosa um cativeiro tão longo." Ele contou que Benito Júnior foi mantido o tempo todo em um quarto sem ventilação, com pouca iluminação, acorrentado à cama pelos pés. Não havia água corrente, nem banheiro. No trajeto entre o local do seqüestro e o cativeiro, foi mantido no porta-malas do carro, algemado e com a cabeça coberta por com um capuz. A vítima foi mantida em um único cativeiro. "As condições eram desumanas, embora ele não tenha sido agredido fisicamente." O empresário teve contato com apenas dois dos integrantes do bando. Ele os descreveu como pessoas calmas, frias e ponderadas. Disseram várias vezes que estavam interessados apenas no resgate. Benito Júnior não via televisão, nem ouvia rádio. O quarto tinha uma divisória vedada com uma cortina azul. Durante todo o período, os seqüestradores fizeram apenas seis contatos com a família. No primeiro, no mesmo dia, avisaram que era um seqüestro. No outro, 15 dias depois, pediram US$ 4 milhões. A família fez uma contraproposta, mas não teve retorno. Segundo Tanganelli, a polícia passou a acompanhar as negociações, mas sem interferir diretamente, a pedido da família. "Eles usavam celulares pré-pagos, de rastreamento difícil, o que lhes dava grande vantagem." Para o delegado, o grupo mostrou-se muito organizado. "Falavam apenas o essencial." No último domingo, para provar que o empresário estava vivo, enviaram à família uma foto na qual Benito aparecia sentado na cama, com um jornal do dia e um artefato semelhante a uma bomba atada ao pescoço, além de quatro armas - dois fuzis e duas metralhadoras - encostadas em seu corpo. "Eles deram uma demonstração de força", avaliou o delegado. A polícia acompanhou o pagamento do resgate, mas não interveio para não colocar em risco a vida da vítima. Segundo Tanganelli, os ladrões usaram vários veículos e montaram uma verdadeira gincana para despistar os policiais. O dinheiro, em dólares, foi entregue nas proximidades de um hotel da família, em São Paulo. Ele acredita que a quadrilha é a mesma que já realizou três grandes seqüestros em São Paulo nos últimos cinco anos. Tem de oito a doze integrantes, alguns deles com bastante experiência. "Agora, eles sabem que nós sabemos quem são e logo vão cair", avisou. O delegado divulgou retratos falados de dois dos possíveis integrantes. Um deles, visto no local em que Benito Júnior foi rendido, é magro, tem cerca de 30 anos, cabelos castanhos e mede aproximadamente 1,60. O outro também aparenta 30 anos, tem altura mediana e usa cavanhaque. "Podem até ser a mesma pessoa", presume. Tanganelli disse que a polícia já tem pistas dos bandidos e do possível cativeiro. "Esperamos prender logo os seqüestradores."

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