Familiares cavam o chão à procura de mortos

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Por Rodrigo Brancatelli e GASPAR
Atualização:

Chega um momento em que fica difícil distinguir quem são os bombeiros e quem são as famílias das vítimas das enchentes que destruíram parte de Santa Catarina. Ali no meio de quase sete metros de lama que se acumula numa comunidade conhecida como Arraial D?Ouro, na zona rural de Gaspar, com um cheiro insuportável de morte, todos eles se misturam e se ajudam no resgate dramático de quatro corpos que estão soterrados há nove dias. Uma equipe de dez bombeiros da cidade só conseguiu chegar anteontem, com a ajuda de cabos de aço e carros com tração nas quatro rodas. As famílias estão desde a semana passada cavando com pás e tirando pedras com as mãos para poder enterrar seus parentes. Ontem o número de mortos da tragédia chegou a 122. O Estado acompanhou ontem as buscas pelas vítimas. Para chegar ao Arraial D?Ouro é preciso percorrer 20 quilômetros numa estradinha de terra e ainda andar quatro quilômetros a pé pelo barro. "Nesse passo, ainda ficaremos aqui uma semana para encontrar os corpos", diz o cabo dos Bombeiros José Carlos da Silva, de 41 anos. Alcido Welcher, de 52, seu filho Luís Fernando Wechler, de 10, e pelo menos mais dois vizinhos foram soterrados dentro de suas casas, de onde não saíram mesmo com os alertas da Defesa Civil. É uma cena que se repetiu por todo o Vale do Itajaí. João Welcher, um senhor de passos lentos de 74 anos, acorda atualmente às 6 horas para ir até o local da tragédia procurar seu filho e seu neto. "Mal consigo dormir. É uma agonia danada não saber se poderei enterrá-los. Enquanto não acharmos meu filho e meu neto, não dá para retomar a vida."

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