Famílias são despejadas de pensões interditadas

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Por Redação
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Quando soldados da PM bateram ontem na porta do seu quarto, um dos 30 da pensão do número 64 da Rua Helvetia, a babá Zenaide de Melo Souza, de 35 anos, se agarrou aos dois filhos pequenos. "Pensei que era dessa vez que teria de voltar para Feira de Santana. Para lá eu não volto de jeito nenhum, não tem como trabalhar", diz a babá, que mora há 15 anos na esquina ocupada todos os dias por viciados da cracolândia. No quarto de 15 metros quadrados onde um beliche divide espaço com fogão e TV, a babá mora com três filhos. O banheiro é coletivo e dividido com homens que dormem no mesmo andar. Na porta de madeira do quarto, uma tranca de ferro na parte de dentro garante o sono tranquilo. "Eu já me acostumei, eles (viciados) não fazem nada pra gente, todo mundo sabe que sou moradora. Pelo menos por aqui sempre arrumo um serviço para fazer", justificou. A família da babá é uma das que moram nas pensões interditadas ontem pelo Contru (Departamento de Controle de Imóveis). Mesmo com a operação policial, ela pretende alugar um novo quarto na região. É caso idêntico ao da desempregada Ivete Francisca Domingo, de 40. Com quatro filhos, três já adolescentes, ela mora em um quarto sem forro no teto. A umidade que se alastra por todos os cantos do imóvel não é tanto incômodo, segundo ela. "Pior mesmo é quando chove. Você acha que esse teto segura alguma coisa? Só neste ano nós já perdemos três colchões." A ameaça de despejo na cracolândia também atinge donos de bares e de pequenos comércios de móveis usados. Ontem, a Polícia Militar fazia as vistorias dos imóveis e, ao constatar irregularidades, como falta de alvará, já acionava as equipes do Contru para fazer a interdição na sequência. As famílias desalojadas vão poder se cadastrar em programas habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). "Em vez de pagar aluguel para uma pensão que serve de esconderijo para drogas essas famílias devem buscar um lugar melhor pelo mesmo preço", argumentou o diretor do Contru, Orlando Almeida.

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