Faxineira diz que viu Henry 'com cara de apavorado' após ficar trancado com Dr Jairinho

Vereador e mãe da criança foram presos e são suspeitos pela morte do garoto; funcionária já deu mais de uma versão à polícia

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Por Fabio Grellet
Atualização:

RIO - A faxineira Leila Rosângela de Souza Mattos, que trabalhou na casa de Henry Borel, de 4 anos, morto em 8 de março no Rio, contou à polícia na quarta-feira, 14, ter visto o menino "com cara de apavorado" após ficar trancado no quarto por dez minutos com o padrasto, o médico e vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr Jairinho. Ela disse também que a mãe de Henry e namorada de Jairinho, a professora Monique Medeiros Costa e Silva de Almeida, contou a ela em fevereiro que o filho havia tido "um surto" com o padrasto. O político e Monique estão presos temporariamente em inquérito que apura a morte do menino.

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Rose afirmou que em 12 de fevereiro, a sexta-feira anterior ao carnaval, Monique havia saído de casa quando Dr. Jairinho chegou, por volta de 15h15. Henry então correu até o político, para abraçá-lo, o que era absolutamente incomum – por isso, a babá Thayná Ferreira teria ligado para Monique. Em seguida, o vereador chamou o enteado para o quarto do casal, anunciando ter comprado algo para ele.Ficaram dez minutos com a porta trancada e ao sair, segundo a faxineira, a criança tinha "cara de apavorado" e o menino falou à babá que não queria mais ficar sozinho na sala.

Quando a babá perguntou por que Henry estava mancando, ele respondeu que havia "caído da cama" e que seu joelho estava doendo. Rose também disse ter ouvido quando Henry reclamou que a cabeça doía.

A polícia suspeita que Henry Borel, de 4 anos, tenha morrido depois de ser submetido por Dr. Jairinho a uma sessão de torturas Foto: Reprodução/Instagram

Rose, como é chamada a faxineira, trabalhava no apartamento em que moravam Dr. Jairinho, Monique e Henry, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O menino morreu com diversas lesões pelo corpo. Dr Jairinho e Monique foram presos temporariamente em 8 de abril. São acusados de obstruir a investigação. A polícia acha que são responsáveis pela morte do menino. 

Na quarta, a faxineira prestou novo depoimento ao delegado Henrique Damasceno, da 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso. A suspeita é que o garoto tenha morrido em consequência de tortura.

Em seu primeiro depoimento, em 24 de março , Rose havia contado à polícia outra versão. Na ocasião, diferentemente de suas declarações mais recentes, havia dito que Jairinho não ficava sozinho com Henry. Também não relatou ter conhecimento de alguma agressão contra o garoto. Depois disso, investigadores descobriram mensagens entre Monique e Thayná no WhatsApp. Nelas, ambas falam sobre agressões narradas pela criança. Jairinho seria o autor.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade)em investigação pela morte do menino Henry Borel Foto: Reprodução / TV GLOBO

Com base nessas conversas, a polícia pediu à Justiça que decretasse a prisão do casal, acusado de obstruir a investigação. Eles foram presos em 8 de abril. No dia 12, Thayná deu novas declarações no inquérito. Admitiu que mentira por ordem de Monique e por ter medo de Dr. Jairinho. Detalhou ainda três episódios em que o vereador teria agredido Henry. Como o político e o garoto, nesses episódios, ficaram trancados, a babá não viu nada, mas ouviu relatos da criança e observou lesões no corpo de Henry.

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Faxineira diz que Henry “chorava o tempo todo”

Como Monique e o namorado viajaram para Mangaratiba, na Costa Verde fluminense, durante o carnaval, a faxineira ligou para Monique no domingo, 14 de fevereiro. Queria saber quando deveria voltar ao trabalho. Foi nessa ligação que Rose disse ter ouvido de Monique que o filho "teve um surto" com Dr. Jairinho e por isso ela quase voltou ao Rio no sábado mesmo. Mas Monique não deu detalhes, nem mudou o plano de viagem. Ficou em Mangaratiba até segunda-feira, 15 de fevereiro.

A faxineira também contou à polícia que Henry "chorava o tempo todo" e vomitava "de vez em quando". Disse que numa ocasião, ao ver o filho chorando, Monique afirmou que ele era muito mimado. Advertiu o garoto que, se continuasse chorando "sem motivo", ele iria morar com o pai. Henry respondeu que não queria morar com o pai, segundo Rose.

A faxineira contou também que Monique e Dr. Jairinho tomavam muitos remédios. Monique, segundo Rose, dava medicamentos ao filho, que considerava muito ansioso.

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Rose disse não ter contado esses episódios no primeiro depoimento por não ter se lembrado deles. 

Cabeleireira testemunhou conversa de Monique e Henry por vídeo

A cabeleireira que atendeu Monique em um salão de beleza do shopping Metropolitano, a poucos metros da casa da mãe de Henry, a partir das 16h30 de 12 de fevereiro, também já prestou depoimento à polícia. Enquanto Monique era atendida, a babá da criança ligou e, por chamada de vídeo realizada às 17h, o próprio Henry narrou que havia sido agredido por Jairinho. Depois, Monique conversou com o namorado por telefone. Segundo a TV Globo, que teve acesso ao depoimento, a cabeleireira contou à polícia que Monique brigou com o namorado.

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"Você nunca mais fale que meu filho me atrapalha, porque ele não me atrapalha em nada", disse Monique. Diante de suposta ameaça de Jairinho de demitir a babá, a namorada reagiu: "Você não vai mandar ela embora, porque se ela for embora, vou embora junto, porque ela cuida muito bem do meu filho. Ela não fez fofoca nenhuma, quem me contou foi ele", disse Monique, segundo a faxineira.Jairinho, então, teria ameaçado quebrar algo e a namorada reagiu: "Quebra! Pode quebrar tudo mesmo! Você já está acostumado a fazer isso!". Apesar da discussão, Monique permaneceu no salão. Fez escova no cabelo e as unhas dos pés e das mãos. Segundo a babá de Henry, só chegou em casa às 19h.

Brasil teve mais de 2 mil mortes de crianças por agressão em uma década

A morte de Henry por espancamento não é um caso isolado de violência doméstica. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ao menos 2.083 crianças até essa idade foram mortas por agressão no Brasil, de janeiro de 2010 a agosto de 2020. Para cada caso de óbito registrado dessa forma, especialistas estimam haver outros 20 subnotificados. 

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