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Felicidade Interna Bruta em alta em SP

Índice internacional vira tema de encontro e secretário paulistano considera a possibilidade de aplicar avaliação

Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

Inspirada numa idéia de um país tão longínquo quanto o Butão, pequena nação asiática incrustada no meio do Himalaia, São Paulo pensa agora em medir o progresso com base na felicidade de seus cidadãos. O conceito de FIB (Felicidade Interna Bruta), instituído no Butão em 1972, com a proposta de incorporar conceitos díspares como felicidade e progresso, alegria e desenvolvimento econômico, será apresentado hoje, numa conferência internacional em São Paulo - e conta, desde já, com apoiadores dentro da administração municipal. "A idéia do FIB é incorporar a felicidade, medida por critérios técnicos em questionários de até 150 perguntas, aos índices de desenvolvimento de uma cidade, Estado ou país", explica a psicóloga e antropóloga Susan Andrews, organizadora da 1ª Conferência Nacional sobre FIB, que ocorre hoje no Sesc Pinheiros. Para medir o FIB, a percepção dos cidadãos em relação a sua felicidade é analisada em nove dimensões: padrão de vida econômica, critérios de governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. "O FIB situa a felicidade como pivô do desenvolvimento, em oposição ao PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma das transações econômicas de uma nação), que falha em contabilizar os custos ambientais e inclui formas de crescimento econômico prejudiciais ao bem-estar da sociedade, como o corte de árvores", afirma Susan. "Os bons resultados no Butão chamaram a atenção da ONU (Organização das Nações Unidas), que passou a estudar a implementação do exemplo butanês em outros países", afirma. Uma versão internacional está sendo elaborada no Canadá, com aplicação prática prevista para este ano. Até o início da década de 1970, uma brutal política de isolamento levou o Butão a concentrar os mais altos índices de pobreza, analfabetismo e mortalidade infantil do planeta. Em 1972, juntamente com a abertura econômica, o recém-empossado rei Jigme Singye Wangchuck criou o conceito de Felicidade Interna Bruta, para redefinir o significado de desenvolvimento social e econômico. Hoje o Butão - cuja capital, Thimphu, com 50 mil habitantes, não possui semáforos e só conheceu televisão e internet em 1999 -, vê os índices de analfabetismo e mortalidade infantil despencarem, a economia se recuperar e as belezas naturais continuarem intactas, com 25% de seu território delimitado por parques nacionais. Desde o fim da década de 1990, observadores da ONU viajam ao País anualmente para estudar o jeito butanês de levar a vida. "As mudanças foram reflexo da maneira como os butaneses passaram a observar a vida, valorizando somente o que realmente interessa", afirma Susan. "Eles se dizem, hoje, o povo mais feliz do planeta." BRASIL No Brasil, um protótipo de FIB foi colocado em prática em abril, em Angatuba, a 181 km de São Paulo (mais informações nesta página). Na capital, a idéia já conquistou um primeiro aliado: o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, que propõe, a partir de 2009, iniciar pesquisas de medição do FIB em subprefeituras da capital. "Seria uma maneira de a cidade contribuir com esse esforço internacional, com adaptações à realidade da metrópole", disse. "O ideal seria começar numa subprefeitura central, como Pinheiros, e em outra periférica, como Parelheiros. É uma boa sugestão para a próxima gestão." Para pesquisadores, a adoção do FIB, em conjunto com outros indicadores, tem o mérito de informar a população sobre sua percepção de bem-estar. "O PIB foi elaborado na década de 1950 e está defasado há muito como indicador de desenvolvimento de um país. O FIB complementa os indicadores de qualidade de vida, juntamente com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)", afirma o economista Ladislau Dowbor, consultor da ONU. Como ressalva, há valores subjetivos que influenciam na avaliação das pessoas sobre a felicidade. "Para quem não tem nada, qualquer melhoria já representa um ganho enorme em relação ao bem-estar", afirma o economista Flavio Comim, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). "Mas a ONU analisa o indicador com bons olhos." O QUE SE AVALIA 1. Padrão de vida econômica 2. Educação de qualidade 3. Saúde 4. Expectativa de vida e longevidade comunitária 5. Proteção ambiental 6. Acesso à cultura 7. Bons critérios de governança 8. Gerenciamento equilibrado do tempo 9. Bem-estar psicológico

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