Férias têm intensivão das blitze antifumo

Na 1.ª ação na capital, caça-fumaça não enfrenta nenhuma hostilidade

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

Os fiscais da fumaça vão aproveitar as férias de julho para reforçar as blitze educativas da lei antifumo. Ontem, durante a primeira ação do tipo na capital - que inspecionou bares e restaurantes da boêmia Vila Madalena, na zona oeste da cidade -, foi anunciado pelo governo de São Paulo que as operações para alertar a população sobre as novas normas do cigarro serão diárias. O "intensivão" ocorre durante o mês que antecede a vigência da aplicação de multas de até R$ 3 mil aos locais infratores e suspensão de atividades para os reincidentes. "Estaremos todos os dias nas ruas, nas férias, e vamos intensificar mais a operação no fim de semana", afirmou o secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas, logo após entregar um folheto com explicações sobre a legislação para uma mulher que acabara de apagar o cigarro dentro de um dos bares inspecionados. A retribuição dela foi com um sorriso constrangido. "É uma lei que não implicará diminuição de movimento nos bares. Não é permitido fumar dentro do cinema; nem por isso as pessoas deixaram de ir." O horário escolhido para estrear a blitz na capital foi a happy hour (18h30). O circuito inicial percorrido pelo secretário Barradas, pelo secretário de Estado da Justiça, Luiz Antônio Marrey, por autoridades do Procon e da Vigilância Sanitária incluiu cinco bares e não enfrentou resistência ofensiva nem dos fumantes. Um deles se propôs até a soprar o "fumômetro", aparelho que mede a quantidade no pulmão de monóxido de carbono, uma das substâncias mais nocivas do tabaco. O resultado após a baforada do publicitário Thiago Gomes, de 28 anos, foi de 10 ppm (partes por milhão), índice considerado de "fumante leve". Gomes até tentou justificar o número encontrado, falando da poluição e não dos dez bastões de nicotina consumidos diariamente, mas Maria Cristina Megid, diretora do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) e "xerife da fumaça", informou que os poluentes dos carros alcançam no máximo 3 ppm na escala. Os bares visitados pela "comissão de frente" da patrulha antifumo não estavam muito cheios. Alguns clientes fumantes, ao avistarem o batalhão, tiravam os maços de cima da mesa, e faziam "tsc, tsc" com a cabeça. Já os garçons, cozinheiros, donos de bares e gerentes recebiam a turma de braços abertos. Um dos profissionais, Lucélio Ferreira, que nunca fumou nos 38 anos de vida, quis fazer o fumômetro. Deu 2 ppm. "Mas já fizemos a medição em profissionais não fumantes depois da 1 hora e encontramos 13 partes por milhão." Nenhum dos estabelecimentos que inauguraram a blitz, apesar de garantirem o apoio à lei antifumo, havia banido acessórios do hábito, como cinzeiros. "A partir de 7 de agosto, mesmo que não se flagre o fumante, só indícios de fumaça vão render multa. E cinzeiro é um dos sinais", explicava o diretor do Procon, Roberto Pfeiffer, a Welder Costa, gerente do bar Quitandinha. "Nós concordamos com a lei, mas alguns clientes já reagiram mal quando pedimos para apagar o cigarro", argumentava Costa. "Por isso, estamos primeiro apostando na conscientização, para depois adotar medidas mais incisivas. Com certeza será mais difícil quando, além de fumante, a pessoa estiver embriagada." Foi só o gerente falar para um desses exemplos aparecer. Um homem de meia idade, aparentemente alterado, gritou para os fiscais da fumaça que "era um absurdo o que eles faziam" e o melhor era "proibir a venda de cigarro". Saiu batendo o pé, sem dizer a identidade. LIMINAR VALENDO O Quitandinha foi o último bar vistoriado por toda a patrulha. Depois as autoridades foram embora. Outros 95 locais da região seriam visitados pelo restante dos fiscais. Além da capital, 26 cidades do Estado receberam ontem a visita dos fiscais antifumo. A chamada megaoperação se deu mesmo com a existência de uma liminar que limita o alcance da lei antifumo. Concedida pelo juiz Valter Mena, da 3ª Vara da Fazenda Pública, em favor da Federação dos Hotéis e Similares (Fehoresp), por enquanto os associados dessa entidade não podem ser fiscalizados nem precisam banir os fumódromos. Marrey entrou com recurso ontem para reverter a decisão. Ele acredita que a cassação "é questão de tempo". A vitória garantida, na avaliação dele, é porque anteontem o presidente do Tribunal de Justiça derrubou sentença similar que havia sido conseguida pela Associação Brasileira de Gastronomia e Hospedagem (Abresi), concedida pelo mesmo juiz. Uma se referia à outra.

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