Flanelinha ajuda a driblar Zona Azul

Motorista deixa a chave com o guardador, que coloca o cartão e evita multas; serviço custa até R$ 150/mês

PUBLICIDADE

Por Vitor Sorano e JORNAL DA TARDE
Atualização:

Motoristas e flanelinhas encontraram um jeito de estacionar em vagas de Zona Azul por mais tempo que o permitido. O motorista deixa a chave com o flanelinha, que coloca o cartão só quando os fiscais passam - e o troca quando preciso. Há pacotes mensais, de R$ 100 a R$ 150. A tática anula o objetivo da Zona Azul, de 1974: "promover rotatividade de vagas", segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A multa para infratores é de R$ 53,20, mais três pontos na carteira e chance de ter o carro guinchado. Como há déficit de 10 mil vagas, segundo a Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), os flanelinhas criaram outra forma de faturar: garantir a vaga, dar os cartões e "olhar o carro". Na Rua Oscar Freire, os donos de veículos não precisam se preocupar se houver autuação. "Os pontos ficam na minha carteira", garantiu, na tarde de terça-feira, um guardador que trabalha entre Haddock Lobo e Augusta. O mesmo disse outro, na Rua Padre João Manuel. O atrativo é o preço. Na Oscar Freire, um manobrista oferece vaga mensal por R$ 130, das 10 às 17 horas, ou R$ 6,50 por dia, durante a semana. Um estacionamento convencional na mesma rua sai por R$ 250 por mês ou R$ 12,50 diários. Mesmo que permitido, estacionar na Zona Azul por sete horas custaria R$ 12,60. "Eu tenho de ficar com a chave, porque a Zona Azul é por minha conta. Tem de pagar adiantado", negocia um flanelinha da Padre João Manuel. O preço é o mesmo cobrado na Rua Bráulio Gomes. Segundo os flanelinhas, os principais clientes são funcionários de lojas. "O pessoal do hospital (Samaritano) deixa aqui também", diz um guardador na Rua Veiga Filho, em Higienópolis. Próximo ao Mercado Municipal, prática semelhante acontece na Rua da Cantareira. Segundo os guardadores, as multas são raras. Primeiro porque dizem saber como a fiscalização ocorre. "Eles passam uma vez por dia, duas. E quando tá chovendo, eles não vêm", explicou o da Veiga Filho. Segundo porque, como observado na Bráulio Gomes anteontem, o fiscal costuma esperar o guardador colocar os cartões. "Quando eles chegam, a gente corre a folhinha em todos os carros. Daí eles ficam esperando", disse o da Padre João Manuel. "Eles (fiscais) sabem, né, que tenho essas vagas aqui (Rua Veiga Filho). Então ele chega ali e pergunta se os carros são meus. Se não der para pôr em estacionamento, aí eu coloco a Zona Azul", afirmou o guardador. Todos os motoristas ouvidos afirmaram usar o sistema há anos, sem que nenhuma multa tenha sido aplicada. Mas, segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais, quem tiver o veículo roubado em situação como essa não receberá o seguro. Procurados um dia depois pela reportagem, a maioria dos guardadores de carros negou a prática. A CET disse que coibir a prática não é sua competência e que vai encaminhar a denúncia à polícia. Sobre o fiscal esperar o guardador colocar o cartão da Zona Azul, o órgão não respondeu. Disse apenas que quem estiver fora das regras será multado e que no último trimestre a média foi de 35 mil multas/mês em áreas de Zona Azul.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.