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Flanelinhas cobram mensalidade e manobram carros na Faap

Flanelinhas possuem espaço demarcado e cobram mensalidades de R$50 a R$ 150 para permitirem que os alunos estacionem em locais públicos

Por Agencia Estado
Atualização:

Os motoristas que estacionam nas imediações da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) continuam sofrendo com a ação dos flanelinhas, apesar da implantação do sistema de zona azul, em frente do Estádio do Pacaembu, em março deste ano. Alguns flanelinhas chegam a ficar com as chaves dos veículos, num esquema semelhante aos serviços de manobristas, além de cobrarem mensalidades. Organizados em grupos de três ou quatro, os flanelinhas possuem espaço demarcado e cobram mensalidades de R$50 a R$ 150 para permitirem que os alunos estacionem em locais públicos. A prática de pagar mensalidade não é segredo. Basta chegar às ruas da região que é fácil identificar quem são os guardadores de carros. Na frente da entrada da universidade, na Rua Alagoas, fica um dos guardadores. Ali, os alunos param em fila dupla e deixam suas chaves com o flanelinha, que se identificou apenas como Geraldo, que tira os carros da via no momento que surgir uma vaga. Geraldo, que disse atuar há 18 anos nos arredores da Faap, trabalha junto a outros três guardadores, que, segundo ele, bloqueiam uma rua sem saída próxima à fundação e contratam um "segurança" para ficar no local. Eles cobram R$ 150 por mês e possuem até um armário perto da entrada da universidade para guardar os chaveiros dos alunos-clientes. Já o guardador Rogério trabalha em outra parte da Rua Alagoas e cobra cerca de R$80 mensais. Trabalhando no local há 3 anos, ele diz cuidar de 50 automóveis. No entanto, ele diz que alguns de seus clientes preferem não deixar a chave do carro, e, por isso, remaneja outros automóveis já estacionados para garantir mais vagas na rua. Em dia de jogos, por exemplo, ele deixa os carros no estacionamento de um banco e de uma locadora de filmes, localizados na Praça Charles Miller. Os alunos dizem deixar a chave de seus carros por falta de opção. A média de custo dos estacionamentos ao redor é de R$180 por mês e há fila de espera para conseguir uma vaga à noite. Uma estudante, que não quis ter sua identidade revelada, se arrependeu de confiar seu Golf nas mãos de um flanelinha. Desde fevereiro, ela estacionava na Rua Itatira, sob a guarda de um homem conhecido por Donizete. Na terceira vez que entregou sua chave, ao voltar, não encontrou nem o carro, nem o guardador. Horas depois, ele apareceu, dizendo que tinha ido comprar comida e havia sido rendido por ladrões, que levaram o carro. No boletim de ocorrência, a jovem alegou estar dirigindo o carro quando o roubaram para obter reembolso da seguradora. Apesar disso, Donizete ainda mantém a freguesia. Outro aluno, que também não quis se identificar, diz não ter do que reclamar. Ele deixa deu carro há 4 anos com um flanelinha conhecido como Washington, na Rua Avaré, que está lá há 15 anos. O estudante paga mensalidade de R$50 por ter conseguido um desconto pela fidelidade ao serviço. "Confio mais no Washington do que nos estacionamentos, que são mais caros e com prestação de serviço similar", avalia, dizendo que seu carro nunca foi avariado. Contudo, o jovem contou que já teve problemas com outro flanelinha, e que, após uma briga, acabou com a janela quebrada e o aparelho de som do carro roubado. Os 8,5 mil alunos da universidade têm de se conformar com as 441 vagas no estacionamento da Fundação, que espera a aprovação de um projeto de ampliação no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) para criar mais 1160 vagas. Alguns alunos dizem que a presença dos guardadores é imprescindível pois, atrasados para a aula, preferem não ter que se preocupar em disputar uma vaga na região. A Polícia Militar, por sua vez, diz que a população continua vítima dos guardadores de carros porque ninguém se habilita a prestar queixa formal quando extorquido. A pena para extorsão é de 4 a 10 anos de reclusão.

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