Fogo destrói Teatro Cultura Artística

Apenas afresco de Di Cavalcanti saiu intacto do incêndio que durou mais de 4 horas em SP

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Um incêndio que durou mais de quatro horas destruiu na madrugada de ontem grande parte do Teatro Cultura Artística, localizado na Rua Nestor Pestana, na região central da capital paulista. O teatro é um dos mais tradicionais de São Paulo e foi inaugurado em março de 1950 com um concerto de Heitor Villa-Lobos. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 5 horas e, às 8h30, havia controlado as chamas. O afresco de Di Cavalcanti na fachada, com 48 metros de largura e 8 de altura, foi uma das poucas peças não danificadas. O teto desabou, uma sala foi inteiramente incendiada, outra ficou alagada e todo o figurino das peças O Bem Amado e Toc Toc, além de dois pianos, mesas de som e de luz e outros equipamentos foram destruídos. Ninguém ficou ferido. De acordo com o coronel do Corpo de Bombeiros João dos Santos de Souza, o primeiro e o segundo andar foram inteiramente destruídos - ali ficam a administração, salas de escritório e a sala Esther Mesquita, com capacidade para 1.156 lugares. Segundo informações iniciais dos bombeiros, o fogo começou no primeiro andar e foi para o piso de cima. "As causas ainda serão investigadas e podem ser várias: um curto-circuito, a queda de um balão ou pode ser até criminoso", afirmou. Há suspeita de que uma explosão num prédio vizinho possa ter provocado o incêndio. Peritos do Instituto de Criminalística fizeram análises no teatro. O laudo deve demorar de 10 a 20 dias. O administrador do teatro Paulo Calux disse que o porteiro do prédio chegou a ver uma bola de fogo no palco. Foi o porteiro, identificado no boletim de ocorrência como Eusébio Marcos, que acionou os bombeiros. Há 14 anos trabalhando no teatro, ele sentiu cheiro de fumaça às 4 horas. Subiu as escadas, abriu as portas da sala Esther Mesquita e viu fumaça e parte das paredes desmoronando. Segundo o delegado Eduardo Brotero, do 4º DP (Consolação), onde foi instaurado o inquérito, o porteiro não mencionou a ocorrência de um balão. Calux afirmou que há 15 dias o teatro passou por uma vistoria dos bombeiros. "O teatro passou em primeira instância na vistoria. É um modelo de segurança." Para evitar que moradores de um prédio vizinho, na Rua Martinho Prado, fossem intoxicados pela fumaça, o local foi evacuado pelos bombeiros e Defesa Civil. Todos tiveram que deixar seus apartamentos e só voltaram às 8 horas. FALTA D?ÁGUA Inicialmente, os bombeiros controlaram o fogo pelo lado de fora do teatro, com jatos de água. Mas problemas em um hidrante na esquina da Nestor Pestana com a Martinho Prado dificultaram o trabalho de combate ao fogo. "Por ter sido depredado, esse hidrante não pôde ser usado pelos bombeiros. Então, tivemos que usar outros hidrantes mais distantes e carros-pipa, o que dificultou e atrasou um pouco o nosso trabalho", explicou o coronel Souza. Marli Dias, moradora de um prédio na Nestor Pestana há 30 anos, destacou o problema. "Os bombeiros chegaram e os hidrantes não tinham água, o que é um absurdo. As labaredas estavam muito altas e o fogo consumiu tudo rápido", disse Marli. "O fogo começou por volta das 3h30, escutei uns estalos e vi o fogo. Logo o teto caiu." Moradora da mesma rua, Edna Figueiredo Coutinho afirmou que os bombeiros posicionaram a escada, mas não começaram a combater o fogo logo. "Não tinha água para a combater o incêndio", afirmou a moradora da região há 22 anos. O trabalho dos bombeiros utilizou 15 viaturas e 45 profissionais. Equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da Polícia Militar também foram acionadas. O prédio foi interditado pela Prefeitura. Toda a programação de espetáculos foi cancelada e transferida de local pela administração do teatro. Na noite de sábado, as peças O Bem Amado, que estreou em abril, e Toc Toc, em cartaz desde maio, foram apresentadas normalmente. A Orquestra da França iria se apresentar no Cultura Artística nesta semana. "Os espectadores que já compraram ingresso terão o dinheiro devolvido", informou Calux. "O prejuízo cultural é muito maior que o financeiro." Por volta das 16 horas, funcionários da Secretaria de Habitação vistoriaram o local. BIA RODRIGUES, DIEGO ZANCHETTA, EDUARDO REINA e RODRIGO BRANCATELLI

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.