Foram os 4 dias mais violentos da história de São Paulo

Em 96 horas, a partir da tarde de sexta-feira, houve no Estado 253 ataques criminosos e 73 rebeliões em presídios

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Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo registrou os quatro dias mais violentos da história da segurança pública do País. Em 96 horas, contadas desde o primeiro motim em Avaré, às 16h30 de sexta-feira, o Estado registrou 253 ataques criminosos e 73 rebeliões em presídios. Pela primeira vez, também se observou uma operação coordenada do crime organizado contra a polícia e a sociedade - um em cada três ataques teve como alvo agências bancárias, ônibus, estações de metrô e órgãos públicos. A ordem para iniciar a onda de violência foi dada na quinta-feira pelos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que teria sob seu "controle" 90% do sistema prisional. O motivo foi a transferência de 765 dos principais líderes da organização, dispersos por prisões no Estado, para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Usando "bodes" (celulares clonados), a cúpula do PCC enviou ordens para os "pilotos", o segundo escalão, que mobilizou os filiados, os "soldados", da facção nas ruas. A decisão de transferir detentos foi tomada pela cúpula de segurança do governo paulista com base na interceptação de telefonemas de detentos que indicavam o planejamento de uma rebelião para o Dia das Mães - em 2001, o PCC havia promovido motins simultâneos em 29 cadeias paulistas. Na sexta-feira, enquanto sete chefes do PCC - incluindo o líder, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola - eram ouvidos no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), em São Paulo, iniciavam-se as rebeliões no interior do Estado. Naquele momento, imagina-se que parte dos 10 mil "soldados" - criminosos que cumpriram pena e "simpatizantes" - começaram a organizar os atentados. Oito agentes do Estado morreram até o início do sábado. Houve também o apoio dos indultados - presos que, em cinco oportunidades por ano, podem deixar as prisões em datas festivas. Motins No sábado, o Estado amanheceu com um número de rebeliões simultâneas quase igual ao registrado em 2001. Em 73 horas, seriam registrados 73 motins. Mas o pior estava por vir. O PCC usou com mais intensidade o roteiro de violência que caracteriza suas ações: primeiramente, dominar os presídios; depois, atacar a polícia; e, por fim, desestabilizar a ordem, com ataques a prédios públicos. Mas, no domingo, foi além: optou por atacar alvos privados, com o objetivo de desestabilizar a economia. Naquele dia, a queima de 51 ônibus na capital marcou o início de uma guerra sem alvos fixos - nas horas seguintes, foram atacados desde postos de gasolina até agências bancárias e uma estação de metrô. Perplexa, a população paulistana iniciou a segunda-feira com medo e acuada. O passo final para transformar a capital paulista em uma cidade fantasma, digna de Bagdá em toque de recolher, veio com boatos espalhados por toda a cidade. Antes das 14 horas, já havia boatos sobre bombas no Aeroporto de Congonhas e ataques ao comércio. Dois investigadores foram atacados a tiros em Higienópolis, bairro nobre da capital, no único atentado que teve por alvo policiais, na segunda-feira. O comércio baixou as portas nos principais corredores lojistas das zonas sul, oeste e central. Shoppings também fecharam mais cedo. Congestionamento Uma pesquisa do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud) mostrou, há quatro anos, que um em cada três paulistanos tinha medo de sair às ruas. E quatro em cada cinco procuravam evitar sair de casa à noite, por medo da violência. Na segunda-feira, esse temor ficou evidente. Sem informações confiáveis sobre a segurança, a população em geral tomou a decisão de bater em retirada: São Paulo registrou o maior congestionamento do ano, às 18 horas. Enquanto grande número de paulistanos estavam no trânsito, quase simultaneamente acabaram as rebeliões no Estado e os ataques a policiais e alvos públicos. Desde o horário do almoço, por celular, o PCC teria desmobilizado seu "exército" - após um acordo com as autoridades, negado pelo governo. Mas a sensação de insegurança na população não terminou de maneira tão rápida. Na terça-feira, São Paulo registrou uma lentidão três vezes menor em alguns dos principais corredores de tráfego, na parte da manhã - e grande parte da população ainda não sabia se poderia sair tranqüilamente de casa.

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