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Fotógrafa mostra 40 anos de teatro de SP

A retratista Vania Toledo reúne em ?Palco Paulistano? fotos registradas ao longo de sua carreira, de peças que marcaram época

Por Valéria França
Atualização:

Personalidades marcantes da arte, cultura, moda e sociedade paulistana foram registrados pela fotógrafa Vania Toledo nos últimos 40 anos. Em seu apartamento, uma mistura de estúdio com residência, em Higienópolis, bairro da zona oeste de São Paulo, estão guardadas imagens surpreendentes. Há, por exemplo, fotos da atriz Fernanda Montenegro pensando na vida sentada numa privada, do ator Raul Cortez, de cabelos semilongos em cena, do cantor Caetano Veloso nu e da atriz Aracy Balabanian muito jovem e magra, olhando para um copo de vidro, numa solidão de cortar o coração. Pouco a pouco, Vania vai abrindo esse valioso arquivo, a maioria com imagens em preto e branco, organizando e transformando em livros sua trajetória. O mais recente deles, Palco Paulistano - que será lançado no dia 19 -, é atualmente o único registro histórico e iconográfico do teatro na cidade. São 260 páginas com peças encenadas de 1963 a 2007. Ali estão cenas de Hair, por exemplo, com Altair Lima e Bibi Vogel, de 1968, que causou polêmica e escandalizou pelo fato de os atores tirarem a roupa no palco. "Aprendi a fotografar no teatro", explica Vania. "Algumas fotos nem são tão boas, tem até cenas fora de foco, mas valem pelo registro." Formada em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Vania trabalhou com livros didáticos até perceber que não conseguiria melhorar o mundo. Pediu as contas e viajou com o então marido, o cirurgião plástico Luiz Sérgio Toledo, para Londres. "Passava os dias fotografando. Gostei tanto disso que, um dia, espalhei as fotos pelo quarto e perguntei se ele achava que conseguiria ser fotógrafa. Ele olhou os retratos e disse que eu já era uma fotógrafa." Então, aos 28 anos, Vania começou a fotografar profissionalmente. "Publiquei minha primeira foto porque ela foi escolhida por Raul Cortez para virar cartaz da peça Zoo Story", conta Vania, que virou grande amiga do ator, assim como de tantos outros . A atriz Irene Ravache, por exemplo, batizou seu único filho, o fotógrafo Juliano Toledo, de 33 anos. No início, Vania era uma desconhecida. Dona de uma risada escancarada e de uma personalidade forte, soube se fazer notar. "Ela sempre foi entrona", diz o escritor Antônio Bivar, autor de Cão Siamês, de 1969, Gente Fina É Outra Coisa, de 1976, e Alice Que Delícia, de 1977, peças registradas em Palco Paulistano. "A diferença de Vania para um outro bom fotógrafo é que ela tem intimidade com o teatro e conquista rapidamente as pessoas, deixando-as muito à vontade diante de sua câmera." Isso explica, por exemplo, como Ruth Cardoso, ex-professora de Vania na faculdade de Sociologia, ficou tão descontraída no ensaio que fez com a fotógrafa para a revista Vogue. Entre uma foto e outra, a então primeira-dama do País trocava de roupa na frente de Vania como se fossem velhas amigas. Com a Vania é assim: de início ela até parece durona, mas bastam alguns minutos para revelar uma visão doce, generosa e poética da vida. E, num piscar de olhos, o personagem está totalmente envolvido, fazendo poses divertidas, como a de Fernanda na privada, ou despudoradas, como a de Caetano nu. "Houve uma época em que sua casa (que antes era na Praça Buenos Aires) virou uma espécie de embaixada paulistana dos artistas e músicos do Rio", diz Bivar. "Ela chegou a emprestar o apartamento para Cristiane Torloni dar uma festa." Em 1990, todos esses amigos se mobilizaram quando ela foi atropelada e arrastada na Rua Augusta, nos Jardins, por um motorista bêbado. Isso lhe custou dois meses de internação, vários meses de cadeira de rodas e até hoje a impossibilidade de dobrar a perna direita e a dependência eterna de uma bengala. "Rita Lee chegou a oferecer a renda de um de seus shows e muitos artistas plásticos venderam obras para ajudar em seu tratamento", conta Bivar. "Como fiquei um período limitada pela cadeira de rodas, com dificuldades de trabalhar, a Kodak me deu filmes para que eu terminasse o livro Personagens Femininos", lembra Vania. Seis anos depois, nova crise e mais um livro, Pantanal, editado em 1997. Uma sucessão de perdas - a morte do pai, da mãe e da irmã mais velha - num período de seis meses levaram Vania a desenvolver síndrome do pânico. Ela pegou um avião para Londres, onde pretendia se tratar, mas lá ouviu dos médicos que precisava de vida calma, tranquila, com ar puro. Viajou para o Pantanal e só voltou depois de seis meses com vitórias-régias gigantes, tuiuiús, jacarés, barcos e rios "debaixo do braço", entre outras imagens coloridíssimas, fora de seu estilo. "Adoro o preto e branco. Até hoje prefiro a máquina analógica à digital", diz. Mineira, ela se encantou com São Paulo quando chegou à cidade, aos 13 anos, ao ver um outdoor de caneta Parker com uma carga que esvaziava e enchia automaticamente. "Só tinha visto algo parecido nos quadrinhos do Flash Gordon." Vania ainda é apaixonada pela cidade. "Mas o paulistano aqui tem muita pressa, está sempre olhando para o relógio ou falando ao telefone. Ele não tem tempo para perceber a paisagem." Por isso, Vania tem fotografado detalhes arquitetônicos glamourosos da cidade que, em breve, vão fazer parte de um outro livro.

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