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Frieza do assassino de crianças choca a polícia do Sul

Por Agencia Estado
Atualização:

Sujo e faminto, Adriano da Silva, de 25 anos, foi capturado à beira da Represa de Machadinho, em Maximiliano de Almeida, na tarde de terça-feira. "O jogo acabou", disse Silva. "Nós matamos. Eu e a pessoa que está dentro de mim." Assim começa a confissão do assassinato de 12 crianças, com idades entre 8 anos e 13 anos, no Rio Grande do Sul. A frieza do depoimento de dez horas, prestado na delegacia de Lagoa Vermelha, surpreendeu dois delegados, a promotora Ana Cristina Cirne, de Passo Fundo, e o advogado Jéfferson Camozzato. Silva não esboçou emoção e explicou seus crimes com coerência. "Ele é um cara amoral, não denota sentimentos e não muda a fisionomia", disse Camozzato. Silva chegou a dizer que sentia pelas famílias dos garotos, mas logo completou: "O que está feito está feito." Ao confessar os assassinatos, o biscateiro acabou com o mistério que amedrontava os moradores do norte do Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, deixou a polícia gaúcha em situação embaraçosa, por mostrar falhas nas investigações, iniciadas em abril. No depoimento, entre a noite de terça-feira e a madrugada de ontem, Silva assumiu crimes que eram considerados elucidados, com acusados presos. Também apontou vínculos entre os assassinatos, algo que era negado pela polícia. Adriano ficou algumas horas detido em Passo Fundo, em novembro. Certo de que o homem estranho estava envolvido com o sumiço de seu neto L.D., o policial militar aposentado Gediom Dorneles deu voz de prisão a Silva e levou-o à Brigada Militar. Da lá, foi encaminhado à Polícia Civil, que libertou o biscateiro por falta de provas. Identidade falsa Silva enganou a polícia usando uma identidade falsa, de seu irmão Gabriel. Os agentes não ficaram sabendo que ele era foragido da Justiça do Paraná, onde cumpria 27 anos por roubar e matar um taxista em União da Vitória. Naquela ocasião, a polícia chegou a vasculhar a casa onde Silva morava, mas não achou nada suspeito. Ele fugiu, deixou facas cravadas nas paredes da casa e uma carta em que desafiava a polícia para um jogo. A equipe da RBS TV entrou lá e viu. Os investigadores não. Mais suspeitos "Não estamos dando nenhum caso por encerrado", avisou o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), João Paulo Martins. Ele considera corretas as investigações e não descarta a hipótese de que estejam envolvidos com os crimes os seis traficantes presos em Soledade, o representante comercial detido em Passo Fundo e uma gangue juvenil, da mesma cidade, que chegou a ser recolhida a casas de correção, mas está em liberdade. Embora desconfie de que Silva tenha distúrbios de comportamento e possa estar assumindo crimes que não cometeu em busca de notoriedade, a polícia gaúcha vai reabrir todas as investigações. O assassino confesso, detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, na região carbonífera, será levado aos locais dos crimes para reconstituí-los, em operações que começam hoje. As ações serão mantidas em sigilo, porque a polícia teme tentativas de linchamento. Na terça-feira, depois da notícia da prisão de Silva, em Maximiliano de Almeida, pelo menos 200 moradores de Sananduva, onde na sexta-feira passada ele matou D.B.L., de 13 anos, se reuniram diante da delegacia. Temendo que o prisioneiro pudesse sofrer agressões, a polícia transferiu o depoimento para Lagoa Vermelha.

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