Funcionários e especialistas denunciam "máfia" da Febem

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Por Agencia Estado
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Horas extras, maus-tratos, ociosidade. Orquestrados pela chamada máfia de segundo escalão, esses motivos estão por trás de boa parte das rebeliões na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem). Especialistas dizem que, quanto mais tumulto e tensão, mais os monitores "que seguram a casa" permanecem nas unidades. "As horas extras viraram um verdadeiro negócio e criaram forte corporativismo na categoria, que luta para não perder regalias", diz a professora titular da Universidade de São Paulo Maria Luiza Marcílio. A professora da PUC Maria Cristina Vicentin concorda. Em sua tese A Vida em Rebelião, ela aponta o uso dos internos como forma de pressão por aumento salarial e aquisição de benefícios. "Os adolescentes acabam virando alvo de manobras." A forma encontrada para manter os benefícios é simples. "Há uma banda podre na Febem, oriunda da ditadura militar ligada a policiais, que passa a cultura de medo e violência a todo o sistema", diz o integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Francisco Lúcio França. "Parte dela exerce cargos de direção e transfere as regras da repressão a monitores que, em vez de reeducar os adolescentes, usam métodos de punição e contenção." Na opinião do advogado, é freqüente incitar a revolta. Ele lembra do caso de internos que se rebelaram ao ver um adolescente apanhando de oito monitores. "Outro grande problema é que quem não concorda com a tortura é demitido sumariamente e fica à mercê de uma comissão processante totalmente parcial, que transforma vítimas em réus ou beneficia pessoas que continuam em suas posições, apesar de estarem respondendo a processos por tortura ou omissão." Segundo um funcionário de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, que não quis se identificar, de 10% a 15% dos funcionários seguem a política da repressão e muitos deles são ex-monitores que, com o tempo, foram assumindo cargos de direção. Ele diz que a maioria gostaria de fazer um bom trabalho, mas é impossibilitada pela falta de estrutura e pelo medo. "Se quiser instituir uma postura mais educativa, é posto na berlinda e começa a escutar coisas do tipo: você é ´paga-pau´ de adolescente. Se toma atitude com relação a um garoto que apanhou, sofre ameaças veladas e o adolescente apanha mais." Outro funcionário lembra que maus-tratos ali são freqüentes e se agravaram depois do plano de cargos e salários instituído pela Febem no ano passado, sem aviso prévio. "Eu concordo com o plano, mas acho que ele deveria ser discutido, assim como deveria ser dado treinamento e apuradas as denúncias, pois muita gente tem sido afastada injustamente." O presidente do sindicato dos trabalhadores da Febem, Antônio Gilberto da Silva, classifica como absurdas as acusações. Ele afirma que os próprios funcionários reivindicavam o fim das horas extras. "Muitos chegam a 300 horas no mês, fora a jornada de trabalho", diz. "Quando o trabalhador não faz a contenção, é chamado de facilitador de rebeliões. Quando contemos, dizem que somos espancadores." A assessoria de imprensa informou que a Febem só deve manifestar-se na quarta-feira sobre o assunto.

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