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Funk se espalha pela periferia de SP

Por Bruno Paes Manso
Atualização:

É madrugada de sexta-feira na Estrada do Iguatemi, em Cidade Tiradentes, na zona leste, a 35 quilômetros da Praça da Sé. Nas ruas movimentadas, em direção à Cohab, o som grave e abafado do funk carioca vindo dos carros deixa claro a música preferida dos motoristas a caminho da balada que vai acontecer pouco mais adiante. Numa rua fechada pelos moradores, incrustada no meio dos conjuntos habitacionais, cerca de 2 mil pessoas, entre mães com carrinhos de bebê, senhoras, senhores e um grande número de jovens, aguardam a sonzeira funk que vai varar as duas próximas madrugadas, com MCs do bairro e da Baixada Santista. Pouco mais à frente, na casa noturna Cabral, no Tatuapé, 3 mil jovens disputavam espaço no show da Gaiola das Popozudas, banda de mulheres do Rio. Na Semana da Consciência Negra, atrações como essa se espalhavam pelas periferias. As baladas começaram na quarta-feira. E rapidamente os grupos de funk colocaram pelo menos 150 mil pessoas para dançar em 30 casas noturnas da Grande São Paulo, que revezaram 15 atrações vindas do Rio, como a Mulher Melancia - sucesso do momento - e Menor do Chapa. Em vez dos tradicionais discursos sociais do rap, beijos, suor e rebolado. "Assim como aconteceu com o samba e com os desfiles de carnaval, agora é a vez do funk ser importado do Rio. A cidade já assimilou o ritmo", diz o produtor Fernando Mattos da Matta, o DJ Marlboro, um dos criadores do funk carioca. A efervescência da nova cena vem com outras duas novidades. Por um lado, a diminuição da violência ajudou a aumentar o público das casas noturnas fora do eixo central. Somente na capital, são pelo menos 25 casas com atrações fixas semanais de funk carioca, recebendo em média 3 mil pessoas por noite. Outras 40 promovem noitadas de funk eventualmente. Cerca de 80% delas estão na periferia. Para ajudar, os cachês das bandas de funk são bem mais baixos do que os cobrados pelos grupos de pagode e de axé, o que tornou a atração garantia de lucro. Sem falar na reação do público quando o pancadão começa. Em Cidade Tiradentes, o evento foi aberto por um grupo de rap da zona sul, que declamou letras de protesto. O público permanecia de costas para o palco. A situação mudou com Bio-g3 e Backdi, autores da música Gisele da Favela, hit em Cidade Tiradentes. A mulherada chegou para a frente, cantando com os dois. Quando acabou, começaram a cantar músicas relacionadas ao futebol. Foi a vez de os homens se agitarem. Não era hora de pensar. Eles queriam diversão.

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