Garotinho manda prender PMs acusados de seqüestro

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Por Agencia Estado
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Cinco policiais militares acusados de participação no suposto seqüestro de Alex André Gomes, o Dedé, morador do Morro do Querosene desaparecido desde o dia 19, foram presos, por determinação do governador Anthony Garotinho (PSB). "Não tem conversa. Policial é policial, bandido é bandido. PM que se comporta como bandido tem que ser tratado como bandido e ir preso", afirmou o governador, pela manhã. O desaparecimento de Dedé provocou violentas manifestações de moradores, que, insuflados por traficantes, incendiaram dois ônibus e quatro carros em três ruas da zona norte. Menos enfático, o secretário da Segurança Pública, Josias Quintal, disse à tarde que "não há acusação formal contra os policiais" e que a prisão é uma "medida de praxe, disciplinar, para averiguação", que deve durar de 72 horas a 30 dias. A única prova contra os policiais - quatro sargentos e um soldado - é a denúncia feita por moradores da favela, de que eles teriam participado do seqüestro de Gomes e exigido R$ 500 mil para liberar o rapaz. A polícia afirma que Dedé era traficante de drogas. Alguns moradores confirmam a suspeita, mas outros dizem que ele seria líder comunitário do Morro do São Carlos, onde atualmente não há uma associação de moradores. Localizada pelo Estado, a mãe do rapaz, Maria da Penha Gomes, negou as acusações feitas contra ele. "Até onde eu sei, meu filho não é traficante. Acho que tem dedo da polícia nessa história, tem gente graúda, e a Justiça está aí para julgar. Em nome de Jesus eu vou encontrar o Alex", disse ela, chorando muito. Maria da Penha, moradora de Vila Isabel, está com medo de represálias. Ela conta que foi à 6.ª Delegacia de Polícia para comunicar o seqüestro do filho, mas lá teria sido impedida de registrar o crime. No Registro de Ocorrência número 006-00312/2002, do dia 26, o caso é tratado como desaparecimento. O delegado Ronald Mendes Coelho nega que tenha ocorrido constrangimento. Segundo ele, Maria da Penha só mencionou o desaparecimento, sem falar em seqüestro. O coronel Lenine de Freitas, subsecretário da Segurança, afirmou que, se for comprovada a participação dos policiais, eles serão "sumariamente expulsos". O Chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, declarou que a investigação "caminha para um caso de extorsão". Segundo ele, a polícia tem informações de que Dedé já estaria morto. Para Quintal, não há dúvidas de que ele era traficante, supostamente ligado a Irapuan David Lopes, o Gan Gan. "A mãe dele admite que houve negociação. Quando se admite isso é porque há envolvimento com o tráfico. Quando se fala em um valor como esse (R$ 500 mil) é um indício de que ele tem importância." Quintal reprovou a atuação da polícia no confronto de ontem. "Se há desordem e vandalismo, tem que agir com mais rigor." À tarde, moradores do Morro do Querosene reuniram-se com o subsecretário no Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Eles pediram rapidez na investigação do suposto seqüestro e acusaram policiais militares do 1.º Batalhão (Estácio) pelo desaparecimento do rapaz. De acordo com a versão contada por moradores, os traficantes teriam feito um rateio nas favelas dominadas pelo Terceiro Comando e conseguido juntar R$ 150 mil. O dinheiro teria sido entregue aos policiais seqüestradores por um advogado, no bairro do Maracanã. Os PMs teriam informado, porém, depois de pegar o dinheiro, que Gomes estava morto e que seu corpo fora queimado. A polícia bloqueou praticamente todos os acessos ao Morro do Querosene. Na rua Campos da Paz, onde houve o principal conflito de ontem, havia mais de 50 homens do Batalhão de Choque da PM. O clima era de tensão, mas não foram registrados incidentes graves. Aos poucos, o comércio reabriu. Crianças exibiram cartazes pedindo a liberação de Gomes. Dois corpos foram encontrados no entorno do Morro da Coroa, um na Rua Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, e outro dentro de uma lixeira, no acesso ao Túnel Santa Bárbara, que liga o centro à zona sul. Até o fim da tarde, porém, as identidades não haviam sido confirmadas.

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