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Golpe da passagem aérea causa prejuízo de R$ 1 mi a empresa

Casal preso cobrava 50% do preço por bilhetes comprados com dados de cartões de crédito copiados por frentista

Por Pedro Dantas e RIO
Atualização:

A polícia do Rio prendeu três integrantes de uma quadrilha que provocou prejuízo de mais de R$ 1 milhão a companhias aéreas adquirindo passagens com dados de cartões de crédito furtados por frentistas de postos de gasolina. O casal preso, apontado como líder do bando, vendia os bilhetes pela metade do preço a 80 clientes habituais, entre eles jogadores de futebol, profissionais liberais e, principalmente, militares da Marinha. Um frentista também foi preso. Três golpistas continuam foragidos e alguns dos clientes são suspeitos de terem conhecimento de que os tíquetes eram obtidos de maneira fraudulenta e vão depor. "A investigação começou em janeiro deste ano após denúncias da WebJet. Apenas essa empresa teve o prejuízo de mais de R$ 1 milhão no período de um ano e meio com as fraudes. A quadrilha também aplicou o golpe em outras companhias aéreas", declarou o delegado substituto da Delegacia de Roubos e Furtos, Maurício Luciano de Almeida e Silva. De acordo com o policial, a fraude era simples e o golpe é comum contra as empresas aéreas. O frentista José Torquato, de 46 anos, copiava os dados ou roubava os recibos de cartões de créditos dos fregueses de um posto de gasolina na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e repassava ao casal Claudia Vasconcelos Martins, de 25, e Renato Carneiro Cunha Neto, de 32. "Claudia das Passagens", como era conhecida em Niterói (região metropolitana), vendia as passagens a clientes de todo o País por até metade do preço cobrado pelas companhias aéreas e pagava utilizando os cartões de crédito dos clientes do posto de gasolina. Neto, o marido dela, captava clientes, operava o dinheiro e também efetuava vendas, segundo a polícia. "Quando a vítima via o extrato cancelava a compra com a operadora do cartão de crédito, que, por sua vez, suspendia o pagamento à companhia aérea. No entanto, muitas vezes, o passageiro já tinha embarcado", disse o delegado. Os fraudadores foram descobertos quando a polícia começou a abordar pessoas que compravam passagens com antecedência. "Abordamos essas pessoas no aeroporto e trouxemos para a delegacia. Elas alegaram desconhecer que as passagens eram obtidas de forma ilícita e revelaram quem vendia os bilhetes." Em janeiro, a polícia começou a fazer escutas, autorizadas pela Justiça, nos telefones utilizados pela casal. Ao todo foram 7 mil horas de gravação. Cláudia vendia 20 passagens por dia e chegou a abrir um escritório de fachada em Niterói, mas operava o esquema pelo telefone de sua luxuosa cobertura no balneário de Saquarema (Região dos Lagos). O casal acumulou um patrimônio considerável e movimentou R$ 400 mil na conta de um "laranja". Morava em um apartamento dúplex com piscina e possuía uma moto e um carro importados. Sem antecedentes criminais, o trio foi indiciado por formação de quadrilha e estelionato, cuja pena máxima é de sete anos de prisão. Entre os foragidos, estão um homem que seria o laranja da quadrilha e cedia a conta corrente para receber os depósitos dos clientes, um outro frentista que fornecia números de cartões de crédito e um homem que captava clientes. "Alguns clientes conversavam com Cláudia por meio de códigos. Isso pode indicar que sabiam que as passagens eram obtidas de forma ilícita. Se comprovada a culpa, eles responderão por receptação, cuja pena é de até quatro anos (de prisão)." Nenhum dos acusados quis dar declarações. A Assessoria de Imprensa da WebJet confirmou que a empresa fez a denúncia da fraude à polícia e colaborou durante todo o processo de investigação. Os presos, incluindo a única mulher da quadrilha, foram apresentados algemados. O delegado disse que conhecia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que limitou o uso de algemas aos presos que ofereçam risco de fuga ou ameaça às pessoas. "Temos esse cuidado aqui, mas não sabemos o grau de periculosidade dessas pessoas", justificou. ESCUTAS As escutas telefônicas mostram Cláudia Vasconcelos Martins negociando a venda de passagens para várias cidades do País. Em uma das gravações, a acusada mostra preocupação com o prazo que o cliente vai reservar a passagem. Cliente: Aquelas passagens para São Paulo eu posso confirmar até quando? Cláudia: Depende de para quando a compra seja efetuada. Cliente: Para sexta-feira, naquele horário que você me deu, saindo 11h15 do Santos Dumont. Cláudia: Para sexta-feira, o ideal é até quarta-feira, porque aí eu me programo para lhe passar a previsão adequada. Em outra gravação, Cláudia negocia passagem para Campinas, mas a polícia não sabe a origem do vôo. Ela pede que o depósito em conta seja feito em dinheiro. Cláudia: A dona Laura me ligou ontem e falou que você estava precisando ir para Campinas. O que eu mais consegui em conta foi o adulto, ida e volta, por R$ 550 e a criança por R$ 400. Karen (cliente): Ao todo dá R$ 1 mil? Cláudia: Não, R$ 950. Karen: Eu vou aqui conversar e qualquer coisa pego o número de sua conta, tá?

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