Golpe do motoboy: confira dicas de como se prevenir do crime

Com informações prévias das vítimas, quadrilhas especializadas dizem que cartões de banco foram clonados e que é necessário entregá-los para averiguação

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Por Ítalo Lo Re
Atualização:

SÃO PAULO - Difundido por diferentes regiões do País, o golpe do motoboy é um crime que envolve a chamada engenharia social para ludibriar principalmente idosos a passarem dados pessoais e entregarem cartões bancários para supostas averiguações das instituições em que têm conta. Para criar senso de urgência, quadrilhas especializadas, que contam com informações prévias das vítimas e usam até efeitos sonoros das instituições financeiras, dizem que os cartões foram clonados.

Com informações prévias das vítimas, quadrilhas especializadas dizem que cartões de banco foram clonados e que é necessário entregá-los para averiguação Foto: Daniel Teixeira/AE

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Ao receberem essa informação, as vítimas costumam entrar em desespero e acabam passando dados sensíveis, como senhas de contas bancárias para que o bloqueio seja feito o mais rápido possível. Além disso, mesmo quem desconfia e tenta ligar para o número da central de atendimento do banco está sujeito a ser enganado, já que as quadrilhas usam softwares para reter as ligações. Especialistas ouvidos pelo Estadão dão algumas dicas de como se prevenir do crime, e até de como agir ao se tornar uma vítima:

Ative serviços de notificação disponibilizados pelos bancos

O delegado de Polícia da 1ª Seccional de São Paulo, Roberto Monteiro, destaca que um primeiro ponto para se precaver é ativar serviços de notificação, que costumam ser notificados pelos bancos. Assim, o cliente pode receber informações por mensagem de possíveis transações, o que permite tomar atitudes mais pertinentes e acionar o banco até de forma proativa caso algo atípico seja observado.

Ao receber uma ligação suspeita, fique na defensiva

Ainda segundo o delegado, ao receber uma ligação de número desconhecido, é fundamental ficar na defensiva, principalmente se o assunto envolver movimentações bancárias. “Quando você é o sujeito passivo dessa comunicação, ou seja, quando o banco te liga, o que não é normal, o cuidado tem de ser redobrado”, diz o delegado. Ele reforça ainda a importância de não clicar em links suspeitos que possam ser recebidos e de não informar senha, e-mail ou outros dados pessoais.

Tome cuidado para não complementar dados apontados pela quadrilha

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Outro aspecto é que, ao ligar para aplicar o golpe, as quadrilhas costumam já ter alguns dados pessoais das vítimas nas quais tentam aplicar o golpe, até para desenvolver uma narrativa pertinente. É importante lembrar, nesse contexto, que o fato de essas informações serem passadas não garante a credibilidade do interlocutor. Além de que, mesmo que determinados dados estejam de posse de terceiros, as abordagens são feitas para obter informações adicionais que permitam a aplicação do golpe. Então, deve-se tomar cuidado para não passar ainda mais detalhes, como o código de segurança do cartão de crédito, por exemplo, que permitiria a aplicação dos golpes.

Não 'baixe a guarda' mesmo após a ligação

Para se certificar de que não há nada errado com a conta bancária após ter recebido uma chamada suspeita, o recomendado é não entrar em contato com a central de atendimento do banco por meio do mesmo telefone. Isso porque quadrilhas especializadas em aplicar o golpe do motoboy costumam utilizar um software de central de atendimento que se chama URA, capaz de reter a linha após um primeiro atendimento. 

Dessa forma, ao desligar o telefone e tentar ligar para um número oficial do banco, a vítima pode ser desviada para a mesma linha que estava anteriormente, não desconfiando que continua como alvo do golpe. Em resumo, não é recomendado que possíveis alvos “baixem a guarda” mesmo quando estiverem ligando de forma proativa aos bancos.

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Evite ligar para a central de atendimento por meio do celular pelo qual recebeu a ligação

Recomendações disponíveis em uma página do site da Caixa Econômica Federal que trata especificamente do golpe do motoboy apontam que, ao desconfiar de uma ligação, deve-se desligar o telefone e retornar para o banco “ligando de outro número de telefone ou preferencialmente 5 minutos após a ligação suspeita”. Isso evita que a ligação fique retida pela quadrilha, que, em tese, consegue fazer isso por no máximo alguns minutos. As mesmas recomendações são dadas por vídeo sobre o golpe do motoboy feito pelo Banco Central.

Na dúvida, peça ajuda a pessoas de confiança

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Ao desconfiar que se é alvo de um golpe, mas ainda assistir persistir com dúvidas de como agir, uma dica é procurar ajuda, principalmente de pessoas de confiança e que tenham mais familiaridade com tecnologia. Às vezes, a visão de alguém que está de fora da situação e, por conta disso, menos aflita com os ataques da quadrilha, pode auxiliar a se proteger da situação.

Não deixe de informar a situação ao seu banco

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Mesmo que a abordagem não tenha evoluído para um golpe, o recomendado é informar o ocorrido ao banco para que a instituição possa realizar possíveis checagens de vazamento de dados e, a depender, solicite um novo cartão, provendo mais segurança.

Lembre-se que efeitos sonoros e outros detalhes não garantem credibilidade

Fontes ouvidas pelo Estadão apontaram que quadrilhas que aplicam o golpe do motoboy se especializaram em emular efeitos sonoros, músicas de espera de diferentes bancos e criar roteiros elaborados. Segundo o delegado Jacques Alberto Ejzenbaum, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), um exemplo é que as quadrilhas costumam citar detalhes como o nome da loja onde as supostas transações com o cartão clonada foram feitas, o que tem o objetivo de tornar a situação mais crível. Em meio a isso, é fundamental lembrar que recursos do tipo não asseguram credibilidade.

Não entregue cartões, mesmo que danificados

Como a solicitação de cartões não é um procedimento padrão de instituições financeiras, não ​é recomendado entregar cartões de banco a terceiros, mesmo que eles estejam picotados. Em alguns casos do golpe do motoboy, é comum que as quadrilhas solicitem que as vítimas danifiquem os cartões previamente e mantenham apenas o chip preservado para entregar ao motoboy, o que passa uma falsa sensação de segurança. Ainda assim, por conta de os criminosos já terem os dados necessários das vítimas para fazer as transações, eles conseguem, por meio apenas do chip, realizar as transações.

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Se for necessário descartar um cartão, corte todas as partes dele

De acordo com o delegado Roberto Monteiro, ao precisar descartar um cartão, o ideal é recortar todas as partes dele, incluindo o chip. Além disso, se possível, deve-se descartar as partes do cartão em lixeiras diferentes, impedindo que os objetos possam ser encontrados em conjunto. Isso evita que informações sensíveis sejam passadas a terceiros.

Não fale ou digite senhas a terceiros

Quando não há segurança sobre quem é o emissor, uma indicação é não falar ou digitar senhas. Dados sensíveis só devem ser informados quando isso for expressamente indicado pelos bancos dos quais se é cliente ou, mais especificamente, pelos gerentes e atendentes pelos quais se tem confiança.

Caso seja vítima do golpe, faça um boletim de ocorrência

Ao se perceber vítima ou alvo do golpe do motoboy, é fundamental fazer um boletim de ocorrência para que a polícia possa conduzir as investigações. Isso permite combater o crime de forma pontual e dá fomento aos agentes para, com base nas informações disponíveis, desmantelar quadrilhas especializadas. De acordo com o delegado-chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil do Distrito Federal, Adriano Valente, parte das vítimas nem sequer registra boletins de ocorrência, o que acaba dificultando o combate às quadrilhas.

Entre em contato com o banco o mais rápido possível

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Se entrar em contato com o banco já era importante mesmo sem ter caído no golpe, uma vez que foi enganada pela quadrilha, a vítima deve entrar acionar o banco o mais rápido possível para solicitar o cancelamento do cartão. Em posse do boletim de ocorrência, além disso, pode-se abrir procedimento para buscar ressarcimento dos valores. Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) informou que “cada instituição financeira tem sua própria política de análise e devolução”, considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas. A depender dos casos, pode haver ressarcimento. Não havendo, há outras alternativas.

Se necessário, acione o Procon que atende seu município

Coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Marcelo Barbosa explica que é importante informar a situação ao Procon do município em que o golpe do motoboy ocorreu, principalmente em casos em que as agências bancárias ficam na defensiva. Segundo ele, alguns acordos podem ser feitos nesse estágio, permitindo diminuir o prejuízo das vítimas. Se não funcionar, ainda há a possibilidade da vítima entrar com uma ação na Justiça.

Como última alternativa, considere entrar na Justiça

Assim como casos de crimes envolvendo o Pix, os bancos costumam se defender com base na súmula 479, que foi adotada em 2012 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e indica que “as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”. 

Em tese, isso significa que os bancos acabam arcando com o prejuízo em casos de invasão de hackers e fraude nos sistemas, por exemplo. Ao passo que quando a vítima disponibiliza a senha, há o que se chama de “fortuito externo”, que são elementos que fogem das margens de controle que as instituições financeiras. Ainda assim, há outros fatores em jogo que podem terminar que a vítima vença a ação, mesmo se tiver passado a senha voluntariamente. 

A depender dos casos, por exemplo, as vítimas só são convencidas a comunicar as informações confidenciais porque os golpistas já tinham alguns de seus dados bancários, passando uma falsa credibilidade. Com isso, advogados de defesa costumam se valer do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, que diz que a não proteção dos dados dos consumidores pode ser considerada uma falha na prestação do serviço.

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“De onde vieram esses dados? O golpista recebeu de quem?”, questiona o coordenador do Procon da ALMG, Marcelo Barbosa. Segundo ele, mesmo com desfechos variáveis, a jurisprudência em Minas Gerais parece ser favorável às vítimas por conta do vazamento de informações. Em São Paulo, também já houve decisões a favor de clientes. Assim como no Distrito Federal, local em que, segundo o delegado Adriano Valente, o juizado especial teve o entendimento de que os bancos são responsáveis pelo golpe do motoboy. Em meio a isso, ainda que as jurisprudências possam variar de acordo com as regiões do País, entrar na Justiça para tentar ressarcimento não deve ser uma opção descartada.

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