Governo lança Territórios da Paz

Projeto de R$ 234 mi quer levar presença do Estado a quatro comunidades violentas do País

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Por Lisandra Paraguassu e André Dusek
Atualização:

Lojas e mercadinhos da ocupação irregular de Itapoã, no Distrito Federal, só atendem por trás das grades, mesmo a luz do dia. No bairro de Santo Amaro, no Recife, 58 pessoas foram assassinadas no ano passado. O conjunto de 12 favelas do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, dominado pelo tráfico, dispensa apresentações. São essas as áreas, além da comunidade de Santa Inês, em Rio Branco, que o governo federal pretende, a partir da próxima semana, pacificar com uma série de projetos sociais e a implantação de polícia comunitária. Os Territórios da Paz terão investimento inicial de R$ 234 milhões. Com o projeto, o Estado espera entrar em áreas onde hoje tem ação discreta. O foco central será a polícia comunitária. O Ministério da Justiça quer que os policiais sejam conhecidos dos moradores e sejam chamados pelo nome. Para isso, o governo vai oferecer cursos de segurança e direitos humanos em troca de bolsa de R$ 400 mensais e financiamento para compra da casa própria. Apesar de aparentemente pouco para estimular o enfrentamento em áreas violentas, o dinheiro significa, por exemplo, a metade do que ganha hoje um PM iniciante no Rio. No Acre e Pernambuco, onde um soldado recebe entre R$ 1,1 mil e R$ 1,2 mil, a bolsa faz diferença. O impacto é menor no Distrito Federal, onde o salário inicial é R$ 3,6 mil. "Temos de recuperar a polícia para o cidadão, aproximá-la das pessoas", disse o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, no lançamento do Mapa da Violência da América Latina. A experiência de polícia comunitária não é uma novidade. Uma das mais bem-sucedidas é justamente no Morro do Cavalão, em Niterói (RJ), onde a Polícia Militar instalou em 2003 um quartel do Grupo de Policiamento de Áreas Especiais. A PM conseguiu assumir o papel de apoio à comunidade antes exercido pelos traficantes. A experiência do Territórios da Paz vai incluir mais dois projetos. No Mulheres da Paz, mães da comunidade vão receber R$ 190 para trabalhar com jovens, tentar afastá-los do crime e encaminhá-los para projetos socioculturais. A terceira ação, um projeto para jovens chamado Protejo, vai pagar bolsa de R$ 100 para quem se envolver com cultura, esportes e educação. Os jovens deverão ser multiplicadores das ações. Dos quatro territórios que serão inaugurados, o Rio vai receber o maior volume de recursos. Além de R$ 94,1 milhões para o projeto, outros R$ 55 milhões vão apenas para ações de segurança, para fazer a polícia entrar na comunidade. Os resultados, no entanto, não deverão chegar facilmente. Em Itapoã, o posto da polícia comunitária foi inaugurado há quase dois meses, mas os moradores ainda não sentiram diferença. Acuados, comerciantes atendem aos clientes por detrás grades - ninguém entra nas lojas. Nenhum morador se identifica, mas todos têm histórias de horror para contar. Como a da "Rua da Morte", onde são jogados os corpos de assassinados ou do ladrão que avisa à vizinha que no dia seguinte vai assaltá-la e "é melhor que ela tenha alguma coisa em casa". A avaliação é que a presença da polícia é boa, quando ela aparece. Os moradores se queixam, no entanto, que raramente os policiais saem do posto para fazer ronda. Alguns mostram ter receio de andar pela comunidade.

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