Cerca de 3,6 milhões de paulistanos ficaram sem ônibus nesta segunda-feira, por causa da greve de motoristas e cobradores, iniciada à zero hora. O movimento continua nesta terça-feira. Ao menos pela manhã, já que motoristas e cobradores reúnem-se em assembléia às 10h30 para analisar proposta apresentada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT). O rodízio de veículos permanece suspenso. A greve tirou das ruas praticamente todos os 9.600 veículos das 38 empresas de transporte da cidade. Durante audiência de conciliação, o vice-presidente do TRT, Floriano Vaz da Silva, apresentou proposta de 8% de reajuste sobre o salário de maio de 2001, dos quais 6% agora e 2% em novembro. O juiz propôs ainda o pagamento, em janeiro, de abono de R$ 150,00 (motoristas) e R$ 100,00 (cobradores). "Não vamos aprovar essa proposta", adiantou o assessor de Imprensa do sindicato dos motoristas, Geraldo José Diniz da Costa. A greve é um protesto contra a decisão do Transurb, o sindicato das empresas, de ignorar sentença de maio do TRT que previa reajuste de 8% no salário e do tíquete-refeição. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) anulou na sexta-feira a decisão, baixando o percentual de aumento para 6%. Depredação - No início da manhã circularam na capital apenas 50 ônibus da Viação Santa Brígida, que atende o centro e a zona norte. Mas houve tumulto e 14 ônibus foram depredados. Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), à tarde só 20 carros da Santa Brígida permaneciam em circulação. Naquele horário, outras duas empresas, Cooperativa Comunitária de Transportes Coletivos (CCTC) e Oak Tree mantinham nas ruas cinco ônibus cada uma. Trânsito - Além de suspender o rodízio, a Prefeitura liberou vagas em Zona Azul. O trânsito ficou complicado. Segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), havia 126 quilômetros de congestionamento às 19h. Os paulistanos recorreram ao metrô e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Das 7 às 9 horas, as linhas do metrô receberam 15 mil passageiros além dos 300 mil habituais - aumento de 5%. Nas linhas Júlio Prestes-Itapevi e Osasco-Jurubatuba da CPTM houve acréscimo de 7% a 10% no movimento. Mesmo assim, muita gente perdeu o dia de trabalho ou chegou atrasada a compromissos após pegar lotações lotadas. Morador do Parque São Paulo, zona sul, o mecânico Roberto Gabriel, de 41 anos, costuma ir de ônibus até o Paraíso. "Por que os motoristas não liberam as catracas, prejudicando os patrões e não a população?" Mariluze Francisca dos Santos, de 19 anos, saiu cedo da casa da mãe, na zona leste, levando o filho de 7 meses, Fernando e cinco sacolas. Sem saber da greve, queria ir ao Jardim Interlagos, zona sul. Só conseguiu chegar ao Parque D. Pedro, no centro. Não havia ônibus e os perueiros se recusaram a levá-la por causa da bagagem. "Vou dormir aqui no terminal", disse. "Queremos o que a Justiça já determinou", disse o sindicalista Raimundo Celestino Gomes, num piquete na Viação Bola Branca, no Parque São Paulo. "Os 2.400 empregados daqui estão parados." O mesmo ocorreu na Viação São José, no bairro Cidade A. E. Carvalho, zona leste. Enquanto o representante do sindicato Francisco Xavier Silva Filho atendia a reportagem, seu celular não parava de tocar. Eram colegas preocupados em saber da greve. "Está tudo parado", respondia Silva Filho. "Pode dormir, meu querido."