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Grupo falsificava títulos da Venezuela

Mafiosos tentavam obter linhas de crédito com papéis fraudados

Por BRUNO TAVARES E MARCELO GODOY
Atualização:

Leonardo Badalamenti, filho do falecido Gaetano Badalamenti, o chefão da máfia em Cinisi, na Sicília, é acusado de se unir a um funcionário do Banco Central da Venezuela para negociar títulos públicos falsos, a fim de garantir abertura de linhas de crédito em vários bancos. Além dele, pelo menos outros 15 empresários italianos dariam suporte ao esquema. Por enquanto, o escritório da Interpol em São Paulo suspeita que Leonardo usava o Brasil apenas como esconderijo e, daqui, transmitia ordens para a quadrilha - espalhada por diferentes países. Os mafiosos tinham como alvos prioritários grandes empresas dos Estados Unidos, da Venezuela e da Inglaterra. O esquema arquitetado por Leonardo era complexo: com a ajuda de agentes financeiros, a máfia siciliana usava documentos falsos para autorizar o financiamento e garantir a abertura de linhas de crédito em bancos de diversos países, entre eles o Lehman Brothers, nos EUA, o Shanghai Bank, em Hong Kong, e do HSBC Holdings. O grupo de mafiosos pretendia negociar títulos falsos da dívida pública venezuelana por um total de US$ 2,2 bilhões. Durante a investigação, a Diretoria Antimáfia da Itália identificou três tentativas de venda de títulos falsos - em dezembro de 2003, abril 2004 e neste ano. Os criminosos só não tiveram sucesso porque o sistema internacional de controle de movimentações financeiras encontrou irregularidades e bloqueou as transações. As autoridades italianas acreditam que o grupo pretendia lavar o dinheiro arrecadado com as fraudes financeiras em imóveis na Toscana, Puglia e Palermo. Na Sicília, o contato de Leonardo seria o empresário Gaspare Ofria. Os aspectos financeiros da fraude ficavam sob a coordenação do golpista Carmelo Spataro, que operava na Espanha. Na Puglia (região do sul da Itália), o chefe mafioso contaria com o empresário Emanuele Ventura, que representava um grupo de investidores italianos. Todos foram acusados de corrupção, associação mafiosa e fraude. O juiz aposentado Wálter Fanganiello Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, lembra que a atuação da máfia no mercado financeiro internacional não é novidade. "A ?Ndrangheta (associação mafiosa originária da região da Calábria) já foi flagrada atuando na bolsa de Frankfurt (na Alemanha)", diz. "Ao se envolver com lavagem de dinheiro, Leonardo fez algo que os mafiosos mais experientes jamais fazem: mexer com papéis falsos." A Interpol no Brasil já reuniu indícios de que Leonardo mantinha uma casa na Venezuela, mas prevê dificuldades para identificar quando essas viagens teriam ocorrido, uma vez que o mafioso tinha pelo menos oito documentos falsos, todos com nacionalidade brasileira. Nos próximos dias, os agentes da Interpol tentarão buscar detalhes dos 15 anos em que Leonardo viveu no País. O objetivo é identificar eventuais crimes praticados por ele em território nacional, além do uso de documento falso. Uma das linhas de investigação é a possível atuação do mafioso com o tráfico de drogas.

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