No Pará, 21 dos 22 mortos em presídio eram detentos

Num primeiro momento, governo havia dito que cinco mortos seriam de grupo externo que tentou resgatar presos

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Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará confirmou nesta quinta-feira, 12, que 21 dos 22 mortos na suposta tentativa de fuga do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará (CRPP III), na Grande Belém, são detentos. No ataque, que aconteceu dois dias antes, também foi assassinado o agente penitenciário Guardiano Santana, de 57 anos, vítima de quatro disparos de arma de fogo.

Tentativa de resgate de presos no Centro de Recuperação Penitenciário do Pará III, em Santa Izabel, na região metropolitana de Belém, foi realizada por criminosos fortemente armados Foto: Oswaldo Forte/O Liberal

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Segundo a versão oficial, um grupo externo de criminosos - armados de fuzis, carabinas, revólveres e pistolas - saiu de um matagal e teria usado explosivos contra um muro próximo ao solário do CRPP III, presídio de segurança máxima e uma das nove unidades que compõem o Complexo Prisional de Santa Izabel. Eram por volta das 14 horas. Simultaneamente, presos teriam iniciado o motim nos pavilhões C e D e feito agentes penitenciários reféns.

O suposto confronto entre criminosos e o Batalhão Penitenciário, braço da Polícia Militar responsável pela segurança no CRPP III, terminou com 16 presos mortos. Outros 5 fariam do "apoio externo" para tentar promover uma fuga em massa no presídio, segundo divulgou a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe).

Com a identificação dos corpos, porém, foi constatado que os mortos que teriam participado da tentativa de resgate eram detentos da Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), uma unidade voltada para presos do regime semi-aberto, vizinha à cadeia de segurança máxima. Quatro dos cinco tiveram o nome divulgado: Carlos Henrique Costa Cardoso, Manoel Arlen da Silva Martins, Renan Pantoja Barros e Rogério Chavier Pantoja.

A Segup sustenta que os mortos faziam parte do ataque. Segundo a pasta, investigadores identificaram em um vídeo, que foi alvo de perícia, presos da colônia agrícola atuando na operação de resgate e participando do que seria o tiroteio com a PM. Nas imagens, os homens aparecem atirando. Duas dessas armas foram apreendidas, diz a Segup.

Na quarta-feira, 11, os policiais também prenderam dois suspeitos de participar do ataque: Wanderleia Reis da Silva e Cleibe Duarte de Oliveira. Em depoimento, a dupla teria confessado participação no ataque. Eles já tinham passagem pelo sistema prisional do Pará, segundo a pasta. No dia seguinte, a Susipe finalizou a contagem dos presos no CRPP III e informou que não houve fugas.

Acesso fechado.Busca por outros integrantes do ataque continua; em janeiro, já havia acontecido uma tentativa de fuga Foto: Claudio Pinheiro/O Liberal

Segundo Andrey Tito, secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Civis  (Sepub-PA), o CRPP III abriga a  "nata da criminalidade", com assaltantes de bancos, grandes traficantes e matadores que trabalham para facções. "Só tem presos reincidentes e de alta periculosidade", diz. 

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"A unidade tinha um padrão de segurança máxima, conforme penitenciárias dos Estados Unidos, com portões eletrônicos, câmeras de segurança", afirma. "Mas depois de várias e várias rebeliões, hoje em dia, a parte tecnológica foi perdida." Ainda segundo Tito, "informantes" comentaram que "o crime estava cooptando presos da colônia agrícola para participar do resgate." 

Após inspeção em fevereiro, o  CRPP III foi alvo de queixas em relatório do CNJ que apontou problemas de segurança. Entre eles, o órgão informou que havia "facilidade de resgate com apoio externo", áreas de "vulnerabilidade" apenas com alambrado e "suspeita da articulação de internos com outras casas penais".

Funcionários afirmam que um dos principais problemas é justamente a comunicação do CRPP III com uma colônia agrícola vizinha. Além de esconder armamentos na mata, os detentos ajudariam a municiar o presídio de segurança máxima com armas, celulares e outros objetos proibidos. "É muito fácil jogar qualquer objeto por cima do muro", comenta um parente de um agente penitenciário, que não quis se identificar. "Semanalmente os agentes recolhem e fazem relatório de facas, celular, tudo que não passa e cai do lado de fora."

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