Guerra do tráfico aterroriza moradores no Rio

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Por Agencia Estado
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Seis horas de tiroteio intenso entre traficantes de quadrilhas rivais aterrorizaram moradores que vivem próximo aos morros da Mineira e Coroa, na divisa da zona norte com a zona sul, hoje de madrugada. Um homem foi atingido por bala perdida e os criminosos chegaram a fechar a Rua Itapiru, principal via de acesso ao bairro do Catumbi, onde ficam os morros. Moradores contaram que os criminosos aproveitaram a confusão para assaltar motoristas que passavam pelo local, alguns tentaram dar marcha-à-ré para escapar do cerco dos traficantes. O comandante do 1.º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Marcos Fazio, disse "desconhecer" a informação. A governadora Benedita da Silva (PT) afirmou que a cada ação ousada dos traficantes, a polícia vai reagir da mesma forma. "Não estamos escondendo a realidade do Rio de Janeiro. Todos os dias acontecem coisas tremendas, mas também todos os dias estamos aumentando nossa capacidade, seja da presença da polícia, seja dos instrumentos para que eles possam manipular melhor a técnica", afirmou a governadora. A troca de tiros começou por volta das 23 horas entre quadrilhas rivais da Coroa e da Mineira e só se encerrou às 5 horas. A polícia interveio somente no meio da madrugada, quando traficantes da Coroa tentaram invadir o morro vizinho e o embate entre os traficantes se intensificou. Policiais do 1.º Batalhão (Estácio), do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão de Choque, e do Grupamento Especial Tático-Móvel (Getam) foram chamados para dar reforço. Ninguém foi preso. As vítimas O camelô Carlos Henrique da Conceição, de 35 anos, foi ferido no pé direito, por uma bala perdida, na Rua Campos da Paz. Ele foi socorrido por policiais militares e atendido no Hospital Souza Aguiar. Pessoas que tentavam voltar para casa quando o tiroteio teve início tiveram de passar a madrugada na rua. Foi o caso do padeiro Solon Lopes Vieira. Casado e pai de quatro filhos, ele não tinha informação se a família estava a salvo. "Não sei o que pode acontecer. Sou de Campina Grande, na Paraíba. Se pudesse, voltava para lá", afirmou. Fachadas de prédios, janelas, carros e postes de iluminação foram atingidos por tiros. O tenente-coronel Marcos Fazio considerou um "exagero" afirmar que o tiroteio tenha durado seis horas. "Os morros são vizinhos: um provoca o outro, dá uns tiros, o outro revida. Mas a situação só se intensificou por volta das três horas", afirmou o coronel. O deputado estadual Chico Alencar (PT), que mora no bairro de Santa Teresa, próximo ao Morro da Coroa, discorda do comandante. "Não se pode banalizar essa situação. Eu não me acostumo, isso não pode ser rotina. Uma pessoa não pode estar desprotegida na própria casa. Imagina a noite dos moradores da Coroa, da Mineira. Esta é uma guerra terrível, uma barbárie", afirmou o deputado. Na noite de sábado, Alencar já havia entrado em contato com o comandante-geral da PM, coronel Francisco Braz, para reclamar das constantes trocas de tiro nas redondezas. Braz disse que os morros seriam ocupados a partir de ontem. Os estudantes universitários Wilson Mendonça de Souza Neto, de 22 anos, e Evelyn Serrão Weber, de 20, foram feridos durante a madrugada, ao tentarem escapar de uma tentativa de assalto na Rua Alice, em Laranjeiras, na zona sul. O casal de alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) passava pelo local por volta das 4 horas em um Opala, quando quatro homens fizeram sinal para que eles parassem. Eles seguiram adiante e o grupo atirou contra os estudantes. O rapaz foi baleado na perna direita, e passou por arteriografia no Hospital Miguel Couto para saber se houve alguma lesão vascular. Ele teve alta no início da tarde. Já Evelyn foi atingida de raspão no ombro e foi liberada ainda pela manhã, logo depois de receber um curativo. O casal contou que os quatro homens que tentaram roubar o carro simularam uma blitz policial. Mas segundo a polícia, os criminosos estariam fugindo de um dos morros do Cosme Velho e tentaram roubar os carros. Bala perdida Na madrugada de domingo, o filho do ex-deputado estadual Almir Rangel, o empresário Alamir Rangel de Carvalho, de 45 anos, foi ferido com duas balas perdidas que atingiram o pescoço e um ombro. Ele saía de uma pizzaria, em Campo Grande, quando homens passaram atirando. O alvo dos criminosos era um rapaz, identificado como Anjinho, que seria integrante do tráfico da Favela do Jacarezinho. O rapaz foi morto. Sangrando muito, Carvalho foi socorrido e passa bem.

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