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Guerra entre traficantes deixa quatro mortos no Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

Um tiroteio que durou seis horas, promovido por cerca de 50 traficantes usando toucas ninja e roupas camufladas, levou pânico a moradores da Tijuca, zona norte, na noite de domingo e na madrugada de hoje. Quatro pessoas morreram e quatro foram feridas. Um policial militar corre o risco de perder o pé direito, e uma mulher, Cristiane Mancine Elias, de 24 anos, foi atingida na barriga por uma bala perdida. A troca de tiros envolveu quadrilhas rivais dos morros Casa Branca, invadido, e da Formiga. Um carro blindado do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi atacado com uma granada. A violência na Tijuca começou por volta das 21 horas de domingo, quando um Pálio Weekend fugia de uma patrulha do 6.º Batalhão da PM, na Rua Conde de Bonfim. O carro bateu e os quatro homens que estavam a bordo fugiram a pé. Em seguida, ocupantes de outros três automóveis dispararam diversos tiros contra o carro da PM. De acordo com o coronel Ipurinam Calixto, comandante do 6.º BPM, a invasão ao Morro da Casa Branca começou nesse momento. Os bandidos, que teriam sido recrutados em seis favelas dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho (CV) - Boréu, Formiga, Andaraí, Turano, Salgueiro e Chapéu Mangueira - usaram três acessos diferentes para entrar no Casa Branca, controlado pelos rivais do Terceiro Comando (TC). Eles estariam em 15 carros roubados e um caminhão-baú da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). Moradores do Casa Branca afirmam que os traficantes chegaram atirando a esmo e que os três homens mortos no local não tinham envolvimento com o tráfico. Os corpos foram identificados como sendo de Cleiton Noronha Tomás e dos irmãos Wellington José Reis Pereira, de 23 anos, e Antônio José Reis Pereira, de 21. Testemunhas disseram que os três dormiam quando foram surpreendidos pelos invasores, que os executaram no meio da rua com vários tiros. Um teve a orelha direita arrancada. Diversos carros tinham perfurações e vidros quebrados e muitas cápsulas de munição para fuzil cobriam as ruas da favela. Um suposto traficante, não-identificado, morreu no Hospital Souza Aguiar. Acionados pelo 6.º BPM, 11 homens do Bope foram para o Casa Branca por volta de 1 hora, mas o veículo blindado em que estavam, conhecido como Caveirão, foi recebido com uma granada de uso exclusivo das Forças Armadas. O artefato é usado acoplado a um fuzil, que o lança à distância. O Bope permaneceu no local até as 6 horas e voltaria à noite. Às 5h30, houve nova troca de tiros na Rua Conde de Bonfim entre PMs e bandidos. O sargento Edmilson de Oliveira e o soldado Marcelo Ferreira Mota foram baleados, nas nádegas e no tornozelo direito, respectivamente. O caso mais grave é o do soldado, que completou 29 anos no domingo e corre o risco de ter o pé amputado. Como eles, o suposto traficante Gustavo Fernandes de Souza, de 20 anos, também foi socorrido no Hospital do Andaraí, onde foi preso. ?Jerusalém? Em diversos prédios da região, localizados entre os morros da Casa Branca e da Formiga, moradores deixaram seus apartamentos durante a madrugada para buscar abrigo nas garagens, transformadas em bunkers improvisados. O apartamento 407 do edifício número 920 da Conde de Bonfim foi atingido por dois tiros de fuzil. Assustados, os proprietários, que se identificaram apenas como Carlos Augusto e Luciana, afirmam que deixarão o local. "O tiro passou por cima da minha cabeça. Vou mudar para a casa dos meus pais e vender o apartamento o mais rápido possível. Aqui, nunca mais", disse ele, há oito meses no local. Há 33 anos no prédio, Luiz Chalita, de 65, já tem seu esquema para as noites de tiroteio. A família dorme no chão do quarto dos fundos. "Parece que estamos em Jerusalém", disse ele, que há anos tenta vender o imóvel.

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