''Há um vácuo de liderança na oposição''

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Por Christiane Samarco
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ENTREVISTA - Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM, ex-senador (sc)O ex-presidente nacional do DEM Jorge Bornhausen deixa a legenda e se despede da vida partidária convencido de que a oposição está sem rumo e líder. "Houve um vácuo na oposição e a liderança do presidente Fernando Henrique Cardoso não foi preenchida", diz Bornhausen, para quem nem o tucano José Serra nem o senador Aécio Neves (PSDB-MG) conseguiram se credenciar como líderes da oposição. Ele entende que Aécio não tem sequer a garantia da candidatura presidencial da oposição.A seu ver, o maior equívoco dos partidos de oposição - DEM, PSDB e PPS - foi o de se meterem em disputas internas. "Estão perdendo a oportunidade de formar uma única agremiação e de ter as condições para atuar como oposição responsável e fiscalizadora", analisa.O PT perdeu três eleições presidenciais, mas não se abateu e conquistou o poder em 2002. Por que a oposição, depois de três derrotas, passa a imagem de estar se dissolvendo?Porque hoje o grande líder da oposição ainda é o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas ele já não tem mais a atuação partidária e eleitoral que possa dar fôlego à oposição. A oposição está órfã de um grande líder nacional?Houve um vácuo na oposição e a liderança do presidente Fernando Henrique ainda não foi preenchida. Na oposição, é forte a tese da "fila", que situa o senador Aécio Neves na linha de frente dos presidenciáveis, em 2014. Não é uma questão de fila. Se o Aécio tivesse sido candidato a vice-presidente da República, esta fila seria automática. Mas acho que até o José Serra teria ganho a eleição. Dirigentes do DEM dizem que Serra está por trás do PSD... Não acompanhei isto tão de perto, embora não tenha sido coadjuvante nesse processo de fundação do PSD. Em momento algum vi o ex-governador José Serra participar de atividades de criação do PSD. Ele, como eu, fizemos força para que o prefeito Kassab ficasse no DEM. Mas há quem diga que Serra está por trás da criação do PSD. Outros dizem que ele foi traído por Kassab... Nem traiu, nem foi traído, como também não foi surpreendido. Quem é o dono do PSD?Partido não pode ter dono. Tem líder. Quem iniciou o processo foi o prefeito Kassab, que é um dos principais líderes. Mas não é o dono. Sem a força do caixa da Prefeitura de São Paulo, teria sido possível para Kassab a empreitada de construir um novo partido?Não há uso de caixa da prefeitura. Ele é correto. Evidentemente, o cargo dá a força política necessária para, com sua capacidade e habilidade, criar um partido mesmo sem tempo de TV.Há espaço para três partidos de oposição no Brasil hoje?Neste momento, os partidos de oposição estão divididos externa e internamente e não estão cumprindo sua razão de ser ditada pelas urnas: quem ganha governa, quem perde faz oposição. Metidos em disputas internas, os partidos estão perdendo a oportunidade de formar uma única agremiação e ter condições para atuar como oposição responsável e fiscalizadora. No plano nacional, quem derrotou o DEM: Lula ou Kassab?Não posso dizer que o DEM está derrotado. Ele vive uma crise que nasceu do problema surgido em Brasília e que, de forma preconceituosa, foi denominado na imprensa "mensalão do DEM". Este episódio levou a um desgaste de imagem profundo - e repito, de forma incorreta, já que na ocasião o partido tomou as providências adequadas.Como grande crítico do presidente Lula, o senhor acha possível dizer que a presidente Dilma Rousseff é diferente de Lula?Acho que ela tem agido de forma racional, técnica, procurando gerenciar o governo, ao contrário de seu antecessor, que era espetaculoso e não tinha compromisso com a verdade nem com a postura do cargo. Neste período de carência de início de governo, ela está tendo um comportamento adequado, em uma luta muito forte contra a inflação, com a vantagem de ter ao lado um político muito hábil e experiente, que pode ajudá-la muito, que é o ministro Antonio Palocci.O senhor vê futuro no DEM?Eu desejo que tenha futuro. Deseja, mas não vê?Eu desejo... e espero que venha a ter. Tudo é difícil, mas nada é impossível.

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