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Horas de terror com suposta bomba amarrada ao corpo

Por Agencia Estado
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Passava das 10 horas desta sexta-feira quando o empresário José Luiz Faria Neto, de 45 anos, entrou na Catedral Nossa Senhora do Carmo, no centro de Santo André, no ABC. Ele não estava em busca de auxílio religioso, mas de ajuda da polícia. Vestindo paletó, tenso, revelou a um homem que bandidos tinham colocado uma bomba no seu corpo e ameaçavam explodir o artefato caso não lhes entregasse R$ 50 mil. Ele pensou que ia morrer. Duas horas depois, policiais militares do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) retiraram das suas costas um rádio de carro, sem carga explosiva. Os ladrões o assustaram com uma falsa bomba. O rádio da marca Roadstar, pesando quase um quilo, estava preso às costas de Neto, com fita crepe, pouco acima da cintura. Era ligado a fios que contornavam o pescoço. Os bandidos o avisaram que podiam acionar o artefato por controle remoto. Até descobrir que a bomba era falsa, ele viveu cerca de duas horas de terror. Tudo começou quando Neto deixou o carro num estacionamento da Rua Xavier de Toledo. A 50 metros está o 1º DP de Santo André. Ele dobrou a esquina, entrando na Rua Dr. Cesário Mota, a caminho de uma agência do Banco Real. Mas teve o caminho interrompido por uma van. Um homem armado o empurrou para dentro do veículo, onde havia mais dois. Puxado pelas orelhas e pelo cabelo, teve um saco colocado na cabeça. Deram-lhe a ordem: ele deveria entrar numa agência do Banespa e sair com R$ 50 mil. Disseram que o seu irmão estava em poder deles. Ameaçaram explodi-lo e matar o irmão, caso ele não obedecesse. O empresário, que é dono de uma escola, concluiu que eles estavam com a pessoa errada. Ele não tem irmão, é filho único. E não tem conta no Banespa. Não adiantou argumentar. Deram-lhe socos nas costas. Em nenhum momento o chamaram pelo nome. Mandaram que ele erguesse o braço e fixaram o rádio no seu corpo. Foi deixado na Rua General Glicério, local de onde deveria voltar e entregar o dinheiro a um motoqueiro. Foi para a Catedral, na Praça do Carmo, por imaginar que ali o controle remoto poderia não funcionar e não colocaria outras pessoas em risco na rua. Assim que pediu ajuda, a praça foi interditada. A PM avaliou em cerca de duas mil pessoas o público que se aglomerou em torno. Em outubro de 2001 Neto sofreu um seqüestro relâmpago. Mas a experiência desta sexta-feira foi mais tensa. Casado, com duas filhas, o reencontro com a família foi emocionante. "A minha preocupação era com a minha família." Temia que parentes soubessem da história pela TV. "Tem até uma música do Renato Russo, que diz que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Talvez na minha vida eu vá começar a usar esses versos com mais intensidade." Ele pensou que podia morrer na hora em que policiais do Gate chegaram. Foi um sinal de que o risco era muito sério. Ele descreveu a sensação ao saber que a bomba era falsa. "É como colocar uma venda em você e te jogar de um prédio de 20 andares, de ponta-cabeça e não falar que te amarraram uma cordinha de elástico nos pés." No interior da Catedral, sentiu "a presença muito forte de Deus". Neto criticou a violência nas grandes cidades. "Nós estamos chegando ao cúmulo de ter de agradecer de não ser explodido. Agradecer de só o dinheiro ter sido levado embora, só o carro. De repente, vamos começar a agradecer de ter levado só um tiro, de ter ficado só paraplégico por causa de um acidente." De acordo com o Gate, a retirada do rádio "foi uma operação de alto risco". Foram tomados os cuidados especiais até se ter a certeza de que o rádio não tinha explosivo. A Polícia Civil informou que não tem pistas dos seqüestradores.

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