Luís Veloso da Costa, de 69 anos, e Avelina Ferreira, de 66, moram na região da cracolândia há mais de uma década e não se conhecem. Ele saiu ainda pequeno de Belém (PA); ela deixou Mogi das Cruzes (SP) após se aposentar, quando já tinha 50 anos. Ambos escolheram os fundos de duas pensões para morar e sobreviver do garimpo do lixo encontrado nas ruas do centro de São Paulo. Ontem, os dois idosos foram localizados por equipes da Vigilância Sanitária em condições sub-humanas e acabaram encaminhados para abrigos. Em um cubículo com menos de 10 metros, corroído por infiltrações, no fundo de um corredor que cheirava a urina, o senhor magro e com roupas rasgadas acumulava todo tipo de lixo. No teto do quarto, havia dezenas de sacolas plásticas penduradas. "Eu vou juntando tudo para pagar o aluguel. Custa R$ 200, não é fácil", disse Costa. Latas, placas de alumínio, papelão, plástico, tinha tudo no quarto. "Só não dá para colocar minha carroça", brincou. Em outra pensão a quatro quarteirões, em um cubículo onde quase não entrava luz, a idosa de Mogi também acumulava resíduos encontrados há mais de seis anos. No meio de centenas de sacos lotados com latas e roupas velhas, ainda havia um botijão de gás cheio. "Não tenho para onde ir, o que vocês querem? Eu preciso pagar o aluguel, trabalhar aqui perto da estação", reclamava Avelina, que diz ser aposentada. "Eu era servente de uma escola. Não tive muita opção na vida."