A Igreja Católica deve acolher os divorciados, dar atenção aos seus filhos e estar próxima de quem decidiu se separar depois de anos de sofrimento. É o que afirma o documento de trabalho do Sínodo da Família, divulgado nesta terça-feira, 23, pelo Vaticano.
Segundo ele, é necessário “evitar todo tipo de linguagem ou comportamento que faça os divorciados sentirem-se discriminados”. O reconhecimento da nulidade de casamentos deve ser facilitada, com a criação pelas dioceses de um serviço de consultoria gratuita aos fiéis.
Mas, se o documento traz aberturas em direção aos divorciados, ele reafirma que o matrimônio deve ser reservado a casais formados por um homem e por uma mulher, assim como diz que o casal heterossexual constitui uma “base indispensável à formação integral da criança”. Assim, tanto o casamento gay como a adoção por casais homossexuais permanece fora do roteiro dos trabalhos que devem ocorrer no sínodo.
O documento (Instrumentum Laboris) afirma que as “pessoas com tendências homossexuais devem ser escutadas com respeito e delicadeza”. “Em relação a elas se evitará qualquer marca de injusta discriminação”. Com 80 páginas, ele foi apresentado nesta terça no Vaticano pelo arcebispo Bruno Forte e pelos cardeais Lorenzo Baldisseri e Péter Erdö.
O Instrumentum Laboris foi elaborado com base nas respostas de católicos de todo o mundo a questões formuladas pelo papa Francisco. O documento amplia o que havia sido feito na reunião de bispos de 2014, que discutiu o sínodo, que ocorrerá de 4 a 25 de outubro.
Se ele não traz grande avanços em relação aos gays, o mesmo não ocorre com os divorciados. Mesmo reafirmando o ideal da monogamia e da indissolubilidade do casamento – reflexo da aliança entre Deus e o homem –, a Igreja afirma no documento que deve cuidar dos divorciados que se casaram novamente no civil e se encontram em situação de “convivência irreversível”.
Estes poderiam ser readmitidos como padrinhos de batizados e de casamento. “A respeito deles, há um acordo no interior da Assembleia sobre a hipótese de um itinerário de reconciliação pela via penitencial sob a autoridade do bispo.
O documento diz que, sobre a admissão desses divorciados à Eucaristia e à Confissão, a Igreja está dividida entre os que a rejeitam “em favor da disciplina atual” e aqueles que defendem o acolhimento “não generalizado, em algumas situações específicas e particulares, sobretudo quando se trata de casos irreversíveis e ligados a obrigações morais em relação aos filhos que poderiam sofrer violências injustas”.
A respeito das uniões estáveis e dos casamentos civis, a Igreja diz que os casais que escolheram esse caminho devem ser “acompanhados com respeito e paciência em direção à plenitude do sacramento do matrimônio”. Por fim, o documento condena o aborto e eutanásia e reafirma a doutrina católica exposta na encíclica Humanae Vitae, do papa Paulo VI, que só permite aos católicos os métodos contraceptivos naturais.