Imigrantes chineses festejam 190 anos no Brasil

Apesar do longo período no País, maioria ainda tem pouco contato com ocidentais

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Por Agencia Estado
Atualização:

A comunidade chinesa em São Paulo comemorou na semana passada 190 anos do início da imigração de seu povo para o País com um coquetel só para convidados, quarta-feira, na Fundação Memorial da América Latina. O evento fechado reflete um pouco do costume desses imigrantes: a maioria convive apenas entre si, nas mais de 20 colônias existentes na cidade, e evita contato com os ocidentais. Poucos falam português perfeitamente - às vezes, nem seus descendentes o fazem. Há pouca interação até entre os próprios moradores das colônias, divididas de acordo com a origem dos imigrantes, como Cantão, Xangai, Pequim e Taiwan, entre outras. Cada uma tem sua própria associação e fala um dialeto diferente. "Para os brasileiros, baianos, paulistas e cariocas são iguais e conseguem comunicar-se bem. Já na China, pessoas de diferentes regiões são como estrangeiros", explica o cantonês Ma Kin Fu, há 40 anos no Brasil. "Cada cidade tem um dialeto. Fala e escreve de forma diferente. Por isso, chinês não se entende com chinês. Aprender português, então, é como aprender a falar de novo. A língua é a nossa primeira, e eu diria maior, barreira." Máfia - Sempre foi assim, mas a língua não é a única justificativa para a reclusão dos chineses no Brasil. Hoje, a comunidade que já reúne 200 mil integrantes no País, cerca de 50% deles em São Paulo, está ainda mais fechada. Quase dois séculos depois de sua chegada, os chineses sentem-se acuados no local que escolheram para viver. E por seus próprios conterrâneos, um grupo de imigrantes ilegais que envergonha e assusta a comunidade: a máfia chinesa. Só no Brasil, o bando é acusado da morte de 30 pessoas desde 1999, de legalizar a situação de casais de imigrantes ilegais através da "venda" de filhos de chineses que são registrados em cartórios do Rio de Janeiro como dos clandestinos e de exigir que comerciantes da colônia comprem mercadorias de grupos que abastecem os mercados do Rio, São Paulo e Paraná. Só no Brasil, seus integrantes movimentam mais de R$ 100 milhões por mês em contrabando e falsificação de CDs. Também são acusados de extorquir dinheiro de imigrantes em troca de proteção, sob a ameaça de matá-los. Com medo das ameaças, os chineses se escondem, não falam com "estranhos", vivem confinados. Nem as associações querem comentar o assunto: quando se trata da máfia chinesa, a lei do silêncio impera entre imigrantes e seus descendentes. Quem quebra o silêncio paga com a vida. "Acho que a nossa imagem foi distorcida no ocidente", diz Chen Hwa, do Instituto Pai-Lin de Cultura Oriental. "A cultura chinesa é de paz. Tanto que inventamos a pólvora e fizemos com ela apenas fogos de artifício. Para o nosso povo, a guerra é sempre o último recurso, não o primeiro." Intercâmbio - "Estamos nos esforçando para aproximar os dois povos, principalmente depois que a China passou a fazer parte da Organização Mundial do Comércio, atraindo ainda mais o interesse dos empresários. Mas os chineses são mesmo muito fechados. Eles têm medo de se expor, não querem aparecer", diz a vice-presidente da Associação Cultural Chinesa, Eida Lee, que há 20 anos trabalha para promover o intercâmbio cultural entre o Brasil e a China. "No próximo mês, mandaremos 30 estudantes brasileiros para o nosso país, a convite do governo chinês. Eles conhecerão de perto nossas tradições." Com o mesmo intuito de aproximar as culturas foi criada no ano passado a Associação Cultural e Amizade Brasil-China. "Estamos trabalhando com os brasileiros. Queremos promover o conhecimento e a amizade entre os dois povos", diz Lee Hoi On, presidente da associação e fundador do Jornal Chinês para a América do Sul, lançado em 1985. "Damos aulas de chinês para os brasileiros e vamos promover ainda mais atividades em parceria."

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