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Impasse na negociação entre empresas de ônibus e prefeitura

Os empresários se recusam a colocar dinheiro enquanto a Prefeitura não definir um cronograma de investimentos

Por Agencia Estado
Atualização:

Passadas as 48 horas do prazo firmado entre os empresários de ônibus e a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) para tentar pôr um fim à crise entre as partes, a situação ficou ainda mais complicada. Na manhã desta sexta-feira os donos das viações que prestam serviços em São Paulo afirmaram que continuam firmes na decisão de rescindir o contrato. Na segunda-feira, seis dos oito consórcios apresentaram à SPTrans (empresa que gerencia o transporte público) um documento solicitando a "rescisão amigável" do contrato. A Prefeitura não aceitou e, em reunião feita na terça-feira, os lados decidiram apresentar em dois dias uma lista de pendências. Na quinta-feira, após receberem a relação da Prefeitura e de sentirem que suas demandas sofriam resistências, os empresários chegaram à conclusão de que perderão menos se pararem de trabalhar e venderem seus ônibus. Resistentes ao contato com a imprensa, representantes dos consórcios receberam a reportagem na sede do SPUrbanuss (sindicato patronal) para apresentar os motivos de seu descontentamento. Eles pediram que não fossem identificados para evitar represálias. Segundo afirmam, por conta de uma série de medidas tomadas unilateralmente pela SPTrans, não previstas em contrato, eles têm operado no vermelho, com um rombo mensal de R$ 44 milhões. No ano passado, receberam, em média, R$ 156 milhões por mês. Dizem que seus custos são de R$ 200 milhões e que o contrato de concessão deveria garantir-lhes entre R$ 209 a 213 milhões mensais. Apesar de o sistema transportar hoje 2,4 bilhões de passageiros por mês, recorde de movimento, eles dizem que, por causa do bilhete único, 50% não pagam passagem. Desse total, 35% faz parte das integrações gratuitas permitidas pelo bilhete único no prazo de duas horas, e os 15% são as viagens gratuitas para idosos, deficientes e a meia passagem de estudantes. Outro problema que os empresários vêm enfrentando, conforme alegam, é a concorrência dos 6.500 microônibus. As viações querem que 1.500 carros sejam retirados das ruas, porque o contrato previa somente 5 mil. Elas dizem também que micros concorrem com 100% das linhas de ônibus na cidade, apesar de proibido. Falta fiscalização e a Prefeitura se omite em instalar os GPS, sistemas de monitoramento via satélite, que permitiria à SPTrans saber se os lotações estão cumprindo seu itinerário. Como resultado dessa "concorrência desleal", o sistema passou a ficar desequilibrado e deficitário para as empresas. As cooperativas de microônibus, que deveriam funcionar como alimentadoras das linhas principais, passaram a receber uma fatia maior do que a prevista. Enquanto as viações recebem R$ 156 milhões, os perueiros ficam com R$ 84 milhões, ou 35% do total do bolo. Segundo calculam, as cooperativas deveriam receber 23% do total, conforme o previsto. Outro ponto de discórdia é a exigência da SPTrans de que os consórcios renovem a frota. O secretário Frederico Bussinger quer pelo menos mil novos ônibus - que têm a idade média de 6,2 anos - rodando na cidade. Os empresários se recusam a colocar dinheiro enquanto a Prefeitura não definir um cronograma de investimentos previstos em contrato, como a construção de corredores e terminais. As obras aumentariam a produtividade dos ônibus. A intenção, segundo os empresários, é sair sem provocar transtornos. Eles negam que tenham provocado a paralisação dos funcionários na terça-feira. E prometeram continuar pagando os salários para evitar que saiam como vilões em uma eventual rescisão. O secretário de Transportes se recusou a comentar os argumentos dos empresários.

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