Inocente fica preso por mais de 1 ano

Acusado de matar enteado quando tentava reanimá-lo, padrasto se livra de condenação em júri por 6 votos a 1

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Por José Dacauaziliquá
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Um ano, cinco meses e 19 dias. Esse foi tempo que o motorista André Ramalho de Lima, de 27 anos, passou na cadeia, acusado de matar seu enteado, Bryan de Souza Santiago dos Santos, de 2 anos, até ser levado a julgamento. O que a polícia considerava assassinato planejado, a promotoria entendeu como morte acidental. E os jurados foram além: absolveram o réu por 6 votos a 1. Na época em que foi preso, Lima era réu primário, tinha residência fixa e carteira de trabalho assinada. Mas isso de nada valeu. Para contar a história de Lima, a feirante Inácia Ramalho de Lima, de 62 anos, sua mãe, volta ao dia 19 de setembro de 2003, quando o filho tentou socorrer Bryan, um dos três filhos de sua companheira, Marlene Rita de Souza, de 28 anos, frutos de um relacionamento anterior. O menino tinha problemas cardíacos e pulmonares. Naquele dia, a mulher foi dar banho nas crianças. Minutos depois, Lima foi para o quarto e viu Bryan passando mal. Saía sangue de sua boca. "Meu filho entrou em desespero e tentou reanimar o menino: fez respiração boca a boca e massagem cardíaca", diz Inácia. Mas Lima não tinha preparo para realizar esses procedimentos. O pouco que sabia sobre primeiros socorros, havia aprendido dias antes, por um programa de TV. A Polícia Civil entendeu que a morte foi premeditada, por motivos de ciúmes. No inquérito, a polícia concluiu que o acusado havia cometido homicídio doloso (com intenção) com três qualificadoras: motivo fútil, motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima. Em 27 de janeiro de 2006, ele foi preso e levado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde passou três dias. Sua prisão preventiva foi acatada e ele foi transferido para o Centro de Detenção Provisória (CDP) da Vila Independência, no Ipiranga, zona sul. O promotor de Justiça Carlos Roberto Talarico participou do julgamento de Lima, no último dia 16, no Fórum da Barra Funda. Foi ele quem pediu que o réu fosse julgado por homicídio culposo (sem intenção). Talarico conta que dias antes de sua morte, Bryan recebeu uma transfusão de sangue, que geralmente deixa manchas escuras no corpo - o que contribuiu para que a polícia acreditasse que o menino tivesse apanhado. Além disso, os laudos médicos apontaram uma ruptura no fígado da vítima. "Mas não havia nenhuma marca de agressão externa que justificasse a lesão do fígado", afirma o promotor. Ele então entendeu que se tratava de homicídio culposo porque o acusado teria tentado salvar o menino, mas não soube aplicar corretamente os procedimentos. Os jurados não condenaram Lima nem por isso.

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