Inquérito da morte de jornalista pode ser reaberto

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A Justiça está analisando se o inquérito que apura a morte do jornalista Tim Lopes será reenviado à polícia para novas investigações. A governadora Benedita da Silva (PT) já pediu ao Ministério Público que providencie a devolução do documento, por causa do relatório de investigação feito pelo inspetor Daniel Gomes, no qual ele diz que o repórter ?se colocou muito perto do perigo? ao ir ao Complexo do Alemão fazer uma reportagem. O secretário de Segurança Pública, Roberto Aguiar, disse que não houve erro de conclusão do inquérito, mas foram usadas observações pessoais no texto. ?Se o inquérito voltar, vamos corrigir as imperfeições?, afirmou Aguiar, ressaltando que o documento, que indicia nove bandidos pela morte de Lopes, está completo. O MP informou que o 1º Tribunal do Júri está analisando o inquérito e só depois de avaliá-lo vai se pronunciar se o reencaminhará para a polícia. Caso as investigações sejam reabertas, o caso, que antes estava a cargo da delegacia da Penha, irá para a Delegacia de Homicídios. Aguiar considerou as afirmações do inspetor no texto análises pessoais e subjetivas. Há um trecho que diz que o repórter ?no afã de efetuar melhores imagens dos traficantes, se colocou muito perto do perigo, não vislumbrando a diferença da emoção para a razão, fato que ocasionou a sua detenção e morte.? Daniel Gomes e o delegado Sérgio Falante, responsável pelo caso, foram exonerados na noite de quarta-feira, depois que a governadora assistiu ao editorial do Jornal Nacional em repúdio às afirmações contidas no documento. Para Aguiar, houve quebra de hierarquia porque o resultado das investigações deveriam ter sido submetidos ao chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, antes de ser mandado à 1ª Vara Criminal do Rio. ?O delegado errou. Não havia obrigação legal de levar o inquérito para o secretário, mas o chefe de Polícia deveria ter sido comunicado.? Zaqueu Teixeira disse que a punição serve como um ?recado? à corporação. Hoje, Gomes afirmou que a TV Globo ? que entendeu que o texto culpava Tim Lopes por sua morte ? jogou a opinião pública contra ele. ?Eu tinha que mostrar no inquérito a motivação do crime. Eles divulgaram algo que não é verdade. Eu não disse que ele causou sua morte?, disse Gomes, que tem 17 anos de polícia. ?Toda a sociedade acha que ele se expôs muito. Ele foi sem retaguarda. Sumiu às 20 horas e só soubemos às 8h30 do dia seguinte. Não pudemos fazer nada.? Procurada pela Agência Estado, a emissora não se pronunciou sobre as acusações do inspetor. Falante, que é policial há 41 anos, também negou que o inquérito culpasse o repórter, mas concordou que o inspetor colocou impressões pessoais no texto. ?Ele foi infeliz. O policial deve se ater aos fatos.? As afirmações de Gomes causaram revolta entre parentes de Lopes e jornalistas. O advogado da família, André Martins, divulgou nota em que lamenta que o relatório contenha erros técnicos. ?É com indignação que repudio a opinião do investigador de que Tim confundiu emoção com razão. Ele apenas realizava a obrigação profissional de todo jornalista, que é a de cumprir a pauta?, afirmou Martins. O sindicato dos jornalistas do Rio também repudiou as opiniões de Gomes. Já a Associação de Delegados de Polícia (Adepol) acredita que Gomes errou ao fazer considerações subjetivas. O presidente da entidade, Wladimir Reale, não concordou porém com a exoneração de Falante. O Sindicato dos Policiais Civis foi favorável à punição do inspetor e do delegado porque acredita que eles falharam.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.