Investigação aponta envolvimento de policiais em morte de cabo

PM apresentou testemunha-chave para incriminar colegas

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Por Agencia Estado
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As investigações do assassinato do cabo Gilmar da Silva Simão ocorrido na tarde de terça-feira, 10, apontam para o envolvimento de outros policiais. Simão é um dos PMs acusados de participação na chacina da Baixada Fluminense, que aconteceu em março de 2005. O cabo teria sido morto por apresentar ao Ministério Público uma testemunha-chave para solucionar o caso. Chamou a atenção da polícia o seguinte fato: apesar de Simão ter sido executado com cinco tiros - provavelmente, de pistola -, nenhuma cápsula foi encontrada no chão, o que indica que elas podem ter sido recolhidas pelos assassinos. Na noite da chacina, que resultou em 29 mortes, os estojos também sumiram. Nos dois episódios, o objetivo do recolhimento foi dificultar o trabalho da perícia. No caso do assassinato de Simão, existe a possibilidade de as cápsulas terem sido levadas por transeuntes, já que o crime ocorreu por volta das 16 horas, numa rua movimentada de Vila Valqueire, zona norte do Rio. A delegada da 41ª Delegacia Policial, Adriana Belém, considerou o sumiço das cápsulas suspeito. Ela vai encaminhar o inquérito à Delegacia de Homicídios. Os investigadores querem saber se o cabo estava sendo ameaçado. Os outros acusados da chacina poderão ser chamados a depor. Crime Simão, de 35 anos, foi morto em seu carro, quando saía da 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (que investiga transgressões de PMs). Ele estava com outro policial, o subtenente Francisco Gomes. O veículo foi atacado por quatro homens, que vinham num Astra. Um ou dois saltaram e dispararam pelo menos quinze vezes. No automóvel, no lado do motorista, foram dez perfurações; no lado esquerdo, cinco. Cinco tiros acertaram o cabo: dois na cabeça, dois no tórax e um no joelho. O subtenente foi alvejado numa perna e passa bem. O corpo de Simão foi enterrado nesta quarta à tarde, no cemitério Jardim da Saudade, de Sulacap, zona norte. Durante o cortejo, um homem, que seria irmão de Simão, agrediu o fotógrafo do Estado e tentou derrubar sua máquina fotográfica. O promotor Marcelo Muniz, responsável pela denúncia do caso da chacina, feita inicialmente contra onze PMs (quatro já foram inocentados), acredita que seja grande a probabilidade de a morte de Simão ter ligação com o crime. "Desde o início, ele se distanciou dos demais. Foi transferido do batalhão em que estava preso por isso", disse. "Há indícios de que foi queima de arquivo". O cabo não foi denunciado pelos 29 homicídios, mas por formação de quadrilha. Segundo o MP, ficou comprovada sua associação com os demais PMs, naquele e em outros crimes praticados pelo grupo. Ele respondia em liberdade. A testemunha apresentada por Simão afirmou ter visto quatro dos acusados, Marcos Siqueira, Carlos Carvalho, Julio Cesar Amaral e José Augusto Felipe, num dos locais de crime, um lava-jato no município de Queimados. Muniz afirmou que o MP não irá se intimidar e que os julgamentos dos PMs seguirão normalmente. Carvalho, o primeiro julgado, em agosto, foi condenado a 543 de prisão pelo Tribunal do Júri de Nova Iguaçu.

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