Investigação sobre dossiê cita Dirceu; petista nega

Ex-ministro apareceu no rastreamento de 800 números telefônicos como tendo ligado para Jorge Lorenzetti, ex-coordenador de inteligência da campanha de Lula

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Polícia Federal confirmou nesta sexta-feira que é o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu a "pessoa conhecida" que teria sido identificada no cruzamento das ligações telefônicas entre os envolvidos no escândalo do dossiê Vedoin, com denúncias contra tucanos. Na última quinta, 19, em Cuiabá, o superintendente regional da Polícia Federal no Mato Grosso, Daniel Lorenz, mencionou o surgimento de um novo nome das investigações. Conforme a Polícia Federal, Dirceu apareceu no rastreamento de 800 números telefônicos como tendo ligado para Jorge Lorenzetti, ex-coordenador de inteligência da campanha eleitoral e ex-churrasqueiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O rastreamento foi feito com ordem judicial. Dirceu confirma que falou com Lorenzetti, informa o Blog do Noblat. O ex-churrasqueiro telefonou para o ex-ministro em data próxima a da operação fracassada de compra do dossiê. Ainda segundo o blog do Noblat, Dirceu recebeu a ligação em um aparelho fixo e retornou cerca de três horas depois. Ele diz não lembrar o teor da conversa, mas nega que tenha sido sobre a ´negociação´. A PF não decidiu se vai convocar ex-ministro para depor porque o surgimento do nome dele não é evidência de envolvimento com o crime investigado, segundo informou o delegado Diógenes Curado, encarregado do inquérito. Curado entregou nesta sexta-feira à Justiça Federal do Mato Grosso o relatório parcial das investigações, com dez páginas. Ele pediu mais prazo e espera concluir as investigações em 30 dias. O rastreamento telefônico, incluído no relatório, mostra várias ligações do ex-presidente do PT e ex-coordenador da campanha pela reeleição de Lula, Ricardo Berzoini, para os principais envolvidos no dossiê. Oposição contesta A oposição desconfiou imediatamente da versão de que Dirceu seja a pessoa "conhecida e importante". "É mais uma farsa do governo para dizer que o chefe da operação não é Lula", acusou o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Para o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, o surgimento do nome de Dirceu é uma manobra para livrar imputações criminais contra Lula, a seu ver o verdadeiro mentor da armação. "Isso mostra o tamanho do banditismo político desse governo, que não hesita em lançar mão de paus mandados para se livrar da lei", afirmou. Próximos passos Conforme a PF, os usuários e proprietários dessas 800 linhas mantiveram contato naquele período com o grupo de petistas sob suspeita Freud Godoy, Hamilton Lacerda, Expedito Veloso, Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Gedimar e Valdebran. A próxima fase do inquérito começa segunda-feira com o depoimento do empresário Abel Pereira. Assessor do ex-ministro da Saúde Barja Negri, ele seria um dos operadores da máfia dos sanguessugas no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Blog do Dirceu Dirceu negou que tenha participado na tentativa de compra do chamado dossiê Vedoin. Em nota divulgada em seu blog, o ex-ministro rejeitou seu suposto envolvimento no caso e afirmou que aguardará as investigações com calma. "Evidentemente não tenho nada a declarar, até porque não fui demandado por nenhuma autoridade", disse Dirceu, e completou: "Mas quero reiterar que não tive nenhuma participação no caso do dossiê, assim como não tive participação na campanha majoritária em São Paulo ou na campanha nacional". "De minha parte, repilo a onda de boatos que tem tomado conta do País, aguardo com serenidade as investigações e reafirmo que não temo nada porque não devo nada", declarou. Dirceu foi cassado em 2005 por suspeita de ser o mentor dos esquemas de caixa 2 e do mensalão, mesmo sem provas documentais. Ele foi o primeiro homem forte de Lula a cair, e teve seus direitos políticos suspensos até 2015.

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