Jobim já tinha recusado dois outros convites

Ele cedeu a apelos de Lula, que sondara Paulo Bernardo para a Defesa, com garantia de que terá liberdade para agir na solução da crise aérea

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Por Vera Rosa , Christiane Samarco e BRASÍLIA
Atualização:

Depois de recusar duas vezes o convite do Palácio do Planalto, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim cedeu aos insistentes apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ontem tomou posse como ministro da Defesa, com carta branca para mudar tudo o que for necessário e resolver, de uma vez por todas, a crise aérea. Alertado por Lula de que o ministério "tem muitos problemas", Jobim respondeu: "É, eu sei que, na prática, esse ministério não existe." O diálogo ocorreu na noite de anteontem, no Planalto, quando Jobim recebeu o convite formal."Presidente, eu de fato estava resistente, mas a minha resposta é: ?Vamos lá, vamos lá? ", disse ele a Lula. Depois, contou que gostaria de convidar para a posse o governador de São Paulo, José Serra. Lula procurou ser simpático, embora nos últimos dias tenha reclamado de Serra, nos bastidores, por avaliar que ele quer jogar a culpa pelo acidente da TAM, com quase 200 mortos, nas costas do governo. "Claro, Jobim. Chame o Serra!", devolveu. Sexto titular do Ministério da Defesa, criado em 1999 com a missão de integrar as três Forças - Exército, Marinha e Aeronáutica -, Jobim substitui Waldir Pires, que se mantinha fragilizado no posto desde a queda do avião da Gol, em setembro. Com a nomeação do ex-presidente do STF, o PMDB ganha o sexto ministério, embora sua indicação seja da cota pessoal de Lula. Na prática, Jobim - que é filiado ao partido - só mudou de idéia e aceitou a "missão" de comandar a Defesa depois de ser convencido pelos amigos Gilmar Mendes, do STF, e Sigmaringa Seixas, ex-deputado do PT , de que ele estava sendo convocado para resolver uma questão de Estado. "Venha com o espírito preparado. É uma briga", disse Lula, ao dar posse ontem a Jobim, numa referência à necessidade de reestruturar o Ministério da Defesa. "Você assumirá com todas as forças para fazer as mudanças que precisar fazer, onde precisar fazer." O presidente chegou a preparar um Plano B para a substituição de Pires. Até as 20 horas de terça-feira, ainda sem a resposta positiva de Jobim, a alternativa do governo era deslocar o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para a Defesa. "Você escapou por pouco", disse Lula a Bernardo, confessando que já havia alertado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que deixasse de prontidão seu secretário-executivo, Nelson Machado, porque ele poderia assumir o Planejamento. Lula queria uma solução rápida para dar respostas à sociedade depois da tragédia com o avião da TAM. Tudo estava praticamente acertado para uma solução caseira, diante da dificuldade do Planalto em encontrar um nome de fora para assumir o ministério em momento tão delicado. Foi então que Jobim decidiu aceitar a vaga. 6 MINISTROS EM 8 ANOS Élcio Álvares (1999-2000): sem ter um nome civil de peso, especializado em assuntos estratégicos e de defesa nacional, FHC transformou a primeira experiência de um Ministério da Defesa sob comando de um civil em um prêmio de consolação para Élcio Álvares, então PFL-ES. Ele havia sido líder do governo e perdera a reeleição ao Senado. Foi exonerado após denúncias de corrupção eleitoral e relação com bicheiros capixabas para financiar campanhas Geraldo Quintão (2000-2002): para não irritar mais os militares, que não haviam gostado do uso da pasta para premiar um aliado, FHC escolheu um nome "neutro", um jurista que iria institucionalizar o primeiro Ministério da Defesa. Com Quintão, que era chefe da Advocacia Geral da União (AGU), reinou a paz, mas a ascensão civil sobre os militares ficou por instituir José Viegas (2003-2004): no governo Lula, os militares não gostam da escolha do embaixador José Viegas. Ele bateu de frente com o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, que reagiu a uma reportagem sobre falsas fotos de Vladimir Herzog, morto pelo regime militar, soltando uma nota exaltando o golpe de 64 e justificando a tortura. Viegas exigiu "correção da nota", mas pediu demissão José Alencar (2004-2006): Repetindo FHC, Lula fica sem um nome e nomeia o vice José Alencar para acabar o 1.º mandato sem criar problemas com os militares Waldir Pires (2006-2007): Com Alencar doente, o governo faz uma escolha de ocasião. Lula nomeia Waldir Pires, que estava na Controladoria Geral da União (CGU). A meta de novo era evitar problemas com os militares

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