Jogo da purrinha tem primeiro campeonato interbares no Rio

Jogo tradicional nos botecos da periferia reuniu 18 competidores de seis bares cariocas diferentes

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Por Silvio Barsetti
Atualização:

RIO - O olhar fixo no rosto do adversário é mais do que um exercício de adivinhação. Imaginar ou calcular quantos palitinhos ou moedas se escondem nas mãos estendidas sobre a mesa é uma tarefa que mistura sorte, um pouco de lógica e muita observação. Vale blefar e intimidar.

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Jogo tradicional de botecos do subúrbio do Rio e da periferia de outras grandes cidades, a porrinha, ou purrinha, celebrou na noite de sexta-feira a primeira edição do Campeonato Interbares do Rio. O local escolhido, o Bar da Portuguesa, em Ramos, é um reduto da boemia da zona norte carioca e lotou para acompanhar 18 competidores.

Eles representavam seis bares do Rio e iniciaram o torneio divididos em três grupos. Quase todos estavam uniformizados. Não havia regulamento nem juiz. As etapas seguintes eram definidas após algumas rodadas de cachaça, brindes e palavras de exaltação à cerveja gelada oferecida pelos donos da casa. Bastava uma opinião mais razoável sobre a forma de disputa e a composição da tabela saía com naturalidade.

"Eu sou veterano nisso. Na adolescência, praticava a purrinha de raiz, nas viagens de trem que me levavam do centro para a zona oeste do Rio", contou Sergio Rabello, de 59 anos, do Galero Sat's, em Copacabana. Mesmo eliminado logo no começo, o mais velho do grupo se manteve fiel na torcida pelos outros dois competidores de seu bar. Um deles, seu filho, Raoni Rabello, 'reclamava' da falta de clareza nas regras do torneio. "Treinei com palitinhos de fósforo e só agora soube que vamos utilizar moedas. Isso nos prejudicou."

A ideia de tornar a porrinha mais popular surgiu de um bate papo entre os sócios do Bracarense, Cadu Tomé, e do Bar da Portuguesa, Paulo Gomes, o Paulinho, orgulhoso por trabalhar no lugar em que Pixinguinha se encontrou pela primeira vez com o violinista e ex-parceiro de Vinicius de Moraes, Baden Powell.

Curiosamente, num dos quadros afixados no alto do bar, o compositor de 'Carinhoso' descansava a flauta ao lado de um copo e parecia esconder uma das mãos atrás da cadeira - gesto característico de quem joga porrinha.

Por telefone, as inscrições para o campeonato ganharam ainda a adesão dos bares Mussarela, Cachambeer e Aconchego Carioca. Depois de quatro horas de confraternização e alguma polêmica - por um erro na contagem das moedas - Leandro Botelho, o Samito, do Bracarense, conquistou o título. Recebeu troféu, posou para fotos e fez uma revelação: "Sinceramente, nunca joguei isso."

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Regras do jogo. Na porrinha, os 'atletas' ocultam na palma da mão certo número (entre 0 e 3) de moedas ou palitos de fósforo, para depois, um a um, tentarem adivinhar o total. A atividade pode ser praticada por no mínimo duas pessoas e é também conhecida como jogo de palitinhos ou basquete-de-bolso.

Sua origem é imprecisa. Há quem atribua uma menção de Santo Agostinho, no século IV depois de Cristo, ao que seria uma variação do jogo. "Estamos pensando em criar a federação carioca de porrinha. O receio é que, assim, muito organizado, o jogo perca o charme", disse Cadu Tomé, depois de carregar nos ombros o campeão e colega de bar, Samito.

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