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Jogo de empurra nos depoimentos de Suzane e Daniel

Por Agencia Estado
Atualização:

O "amor" de Suzane Louise von Richthofen, de 19 anos, por seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, de 21, que a levou a assassinar os pais, não resistiu aos primeiros 34 dias de cadeia. O interrogatório dos assassinos do casal Manfred Albert e Marisia von Richthofen na tarde desta terça-feira, no Tribunal do Júri, foi um verdadeiro jogo de empurra. "Ele foi plantando uma semente em mim. Ou eu ficava com ele sem meus pais, ou ficava com meus pais, mas sem ele", disse Suzane. "Ela veio dizendo que queria matar os pais. Eu disse pra ela: pára com isso. Isso é uma loucura", afirmou Daniel. Suzane, Daniel e o irmão dele Christian, de 26 anos, foram interrogados nesta terça pelo juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º Tribunal do Júri. Os depoimentos foram os primeiros passos do processo por duplo homicídio triplamente qualificado movido pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra os três. Suzane foi a primeira a depor. Vestia uma saia bege, camiseta branca e tênis pretos. Os longos cabelos, utilizados após a prisão para esconder o rosto dos fotógrafos e cinegrafistas, estavam divididos em duas tranças. Cabeça baixa e expressão de choro, assim estava a assassina confessa. Suzane teve dificuldade para encarar as pessoas (jornalistas, advogados, estagiários e público em geral) que lotavam os 230 lugares do Plenário 10 do Fórum Criminal da Barra Funda. O choro inicial da acusada deu lugar a uma história contada em 55 minutos de forma cronológica, rica em detalhes e com frases de efeito: "Hoje percebo que pai e mãe são tudo. Eles sempre têm razão no que falam" ou "Estou muito arrependida de tudo que aconteceu. Tenho muitas saudades de meus pais" ou ainda "Daniel, que dizia ser o príncipe encantado, só trouxe coisas ruins para mim." A última frase resume o caminho que Suzane tomou em seu interrogatório. Ela contou que seus pais gostavam de Daniel no início do namoro, há cerca de três anos. Os problemas começaram apenas neste ano. Uma mentira contada por ela (em vez de dormir na casa de uma amiga passou a noite num motel) teria motivado a proibição. Suzane diz que passou a sentir uma "obsessão" por Daniel. "Ele foi proibido de ir em casa. Não podia falar com ele nem pelo telefone. Meus pais diziam que ele não tinha a mesma cultura que eu, o mesmo nível social, que ele não ia me levar para frente." No Dia das Mães deste ano, Suzane teve uma forte discussão com os pais e levou um tapa na cara de Manfred. "Ele nunca tinha feito isso." Naquele dia, ela foi para a casa do namorado e decidiu que não queria mais viver com os pais. Os encontros com Daniel passaram a ser às escondidas. Em julho, Manfred e Marísia viajaram para a Europa. Daniel passou o mês na casa da namorada, na Rua Zacarias de Góis, no Campo Belo, local do crime. "Era um sonho. Como era bom ele ficar perto de mim... Ele foi me mostrando como seria nossa vida, me seduzindo. Ele foi me mostrando que era ele ou os meus pais. Era como se minha vida tivesse uma bifurcação", disse Suzane. Segundo ela, seu namorado chegou a pedir dinheiro emprestado para comprar uma arma, que seria usada para matar os pais dela. "Eu amava muito meus pais. Dava desespero pensar em viver sem eles." De acordo com Suzane, a arma que Daniel ia comprar com Christian "não veio". Foi quando os dois, segundo ela, bolaram o plano. Suzane falou para a mãe que tinha terminado o namoro. "Ela ficou muito feliz. Era como se um sonho tivesse se realizado para ela." No dia 30 de outubro, Daniel teria dito que chegara a hora de pôr o plano em prática. Enquanto ele e o irmão matavam Manfred e Marisia a pauladas na cama, onde dormiam, Suzane disse que já se arrependia na biblioteca. "Eu não queria. Chorando, sentei no sofá da biblioteca e tapei os ouvidos." Suzane, que estuda direito na PUC e ocupa uma cela na Penitenciária Feminina, confessou ainda que fumava maconha em grande quantidade. Queixou-se também dos "limites" impostos pelos pais. "Na casa do Daniel podia tudo. Acho que isso me seduzia também." Daniel e Christian acusaram Suzane de ter tido a idéia do crime. "Depois que caímos na realidade, tudo já estava feito. Tomamos a atitude mais cruel", disse Daniel em seu depoimento, que durou 34 minutos. "Um dia, perguntei pra Suzane: o que te leva a querer matar seus pais?", afirmou Christian, que negou ter participado do crime por dinheiro. A moto que comprou no dia seguinte do crime foi para "salvar o irmão", pois tinha medo de que a polícia o flagrasse com o dinheiro. Ele nega ainda ter furtado jóias. Os irmãos, presos no Centro de Detenção Provisória do Belém, disseram que os pais de Suzane bebiam muito. "Ela (Suzane) me disse que eles batiam nos filhos e até tentativa de estupro por parte do pai ela teve", acusou Christian, que só participou do crime, segundo ele, para não deixar o irmão sozinho. Christian afirmou que fez barulho na casa de propósito. "Bati a porta do carro, derrubei as barras no chão, pisei forte na escada. Mas destino é uma coisa que a gente tem de pagar. Eles não acordaram." Daniel garantiu que, após afundar o crânio de Manfred com pancadas, também se arrependeu: "Ajoelhei, fiz carinho nele. Queria fazer reviver." A acusação de estupro feita por Christian não convenceu ninguém. Nem a advogada de Suzane, Adriana Belusconi, nem o promotor Roberto Tardelli nem o assistente da acusação, o criminalista Alberto Zacarias Toron, contratado pela família de Marísia. "É normal réus tentarem satanizar as vítimas", disse o promotor, para quem o teor dos depoimentos não alterou em nada as provas. No dia 19, serão interrogadas as testemunhas de acusação.

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