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Jovem que morreu nos braços do pai é enterrado no AM

Para o pai, dor de saber que filho está desaparecido é maior que saber que ele descansa em paz

Por Liege Albuquerque
Atualização:

O corpo de Jonatan dos Santos, de 18 anos, foi enterrado na manhã desta terça-feira, 1°, no cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, em Manaus. Ele foi encontrado após 71 dias perdido na floresta Amazônica, e morreu nos braços do pai, Edilson Avelino dos Santos, de 41 anos, no domingo. Junto com o pai, participaram do enterro a mãe e uma irmã do rapaz. Para Edilson, encontrar na mata seu filho pouco antes de morrer em seus braços foi um misto de tristeza absoluta e de um grande alívio. "Não poderia continuar vivendo sabendo que meu filho estava desaparecido: essa dor é muito maior e angustiante do que saber que ele agora descansa em paz", disse. Jonatan se perdeu à altura do quilômetro 67 da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, depois de ter saído para acampar com dois amigos, para procurar cachoeiras, no dia 12 de abril. Os amigos disseram ao pai de Jonatan que ele havia se perdido do grupo e, em outra versão, que teria ido sozinho caçar. O pai não sabe onde moram os amigos. O rapaz levou emprestado de Edilson, que é agricultor, um isqueiro, uma espingarda e um canivete para se defender e caçar. Um a um, os objetos foram encontrados pelo pai do rapaz na busca de mais de 70 dias, com poucas pausas por pura exaustão do pai. "Caía de cansaço quando voltava das incursões à selva, mas me prometi que só iria descansar quando encontrasse meu filho". Desidratado, magro e com muitas picadas de inseto, o Instituto de Medicina Legal (IML) informou que a morte do jovem foi por "causa desconhecida". O caso comoveu o tenente-coronel Dinanci Almeida, que comandou as buscas nos primeiros dias depois do desaparecimento de Jonatan. "O filho foi um guerreiro, suportando tantos dias na selva e seu pai é um herói. Essa é uma das histórias que mais me comoveram na vida. Fizemos o que podíamos: nas buscas, as equipes dormiam semanas na mata, mas o que este pai fez só um pai mesmo faria, foi incansável." Segundo o tenente-coronel, as buscas duraram 20 dias e em todos o pai estava e sempre dizia que tinha certeza que encontraria seu filho com vida. "Dizia que ele era forte, que queria muito servir o Exército. E foi mesmo muito forte esse garoto, não é comum sobreviver na selva todo este tempo". Conforme Dinanci, nenhum vestígio do garoto foi encontrado pelos bombeiros no período de buscas, todos foram encontrados pelo pai de Jonatan. "Pelo local em que foi encontrado, achamos que ele andou em círculos". Edilson afirmou que durante o período de buscas gastou cerca de R$ 1 mil com mateiros (caboclos com experiência em exploração em selva). "Gastaria o que tenho e não tenho até encontrá-lo", disse. Segundo ele, os bombeiros ajudaram no que puderam. "Até sei que esticaram mais os dias normais de busca, mas quando pararam continuei porque sabia que iria encontrar meu filho". Depois de encontrar o corpo do filho, contou o tenente-coronel, Edilson ainda caminhou um dia, com o corpo do garoto em uma rede, levado por ele e um mateiro contratado, até uma clareira feita por bombeiros. Lá, colocou o corpo do filho na copa de uma árvore e caminhou até o sítio para telefonar e solicitar um helicóptero para o resgate. Edilson, que mora em um sítio na altura do quilômetro 44 da BR-174, conversou com o Estado e falou um pouco mais sobre as buscas e como se sente. Como o senhor encontrou seu filho? Foi embaixo de uma abiurana (árvore), cheio de moscas no rosto, todo picado de mosquitos, usando uma cueca e camiseta. Nem parecia ele, estava magrinho, mais do que já era (Jonatan, segundo o pai, pesava cerca de 58 quilos e tinha 1,60 m e, em seus cálculos, estava com uns 30, 35 quilos ao ser encontrado). O senhor chegou a perder a esperança, pensou em desistir? Nunca. E principalmente quando comecei a encontrar vestígios. Quanto tempo depois de ele ter desaparecido? O primeiro vestígio, a espingarda, foi mais de 25 dias depois de ele ter desaparecido. Depois foram pedaços de roupa, o isqueiro, e fui tendo certeza que ele estava deixando as pistas para mim. O senhor acredita que ele sobreviveu como? Ele comeu frutas, tomou água de cipós, tudo eu tinha ensinado a ele. Ele chegou a falar algo com o senhor? Não, estava agonizante, falando coisas que não entendi, mas sei que me viu, falou pai. Morreu em meus braços.

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