Juiz admite ter cometido ?infrações éticas?

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Por Agencia Estado
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O juiz Casem Mazloum, titular na 1.ª Vara Criminal do Júri e das Execuções Penais, acusado de integrar a quadrilha envolvida com tráfico de influência e outros crimes que agia na Justiça Federal, assume ter cometido ?infrações éticas?. Ao lado de seu irmão, o também juiz federal Ali Mazloum, Casem foi denunciado pelas procuradoras da República Ana Lúcia Amaral e Janice Agostinho Barreto Ascari de integrar a quadrilha supostamente liderada pelo juiz João Carlos da Rocha Mattos, que foi preso na sexta-feira. Pesa contra Casem uma escuta telefônica, autorizada pelo Tribunal Regional Federal (TRF), na qual ele pede ao agente da PF Cesar Herman para que execute um grampo ilegal pedido por um amigo. O objetivo era o de descobrir uma suposta traição conjugal. O juiz não quer falar individualmente de cada acusação, pois ainda não teve acesso à denúncia do Ministério Público Federal (MPF). De qualquer forma, ele já confessa ter errado. ?Foram infrações éticas, eu confesso isso. Mas é preciso separar bem o significado de uma infração ética de uma criminal. Eu não cometi crime algum.? Uma outra ligação entre Herman e o delegado federal José Augusto Bellini, que também está preso, também é usada contra Casem. Nela, o agente diz que conseguiu passagens de graça para o juiz, com destino ao Líbano. ?Careca? O nome do magistrado é citado em outras conversas mantidas entre os supostos integrantes da quadrilha. Em uma delas, ele é chamado de ?careca?. ?Eu não posso me responsabilizar por declarações de terceiros, mas reafirmo: nunca obtive nenhum tipo de vantagem em minha atuação como juiz.? Casem já afirmou, por diversas vezes, que entrega o cargo caso seja encontrada prova cabal de que ele tenha vendido sentenças ou privilegiado algum réu ou investigado. Casem contratou o criminalista Adriano Salles Vanni para sua defesa. Seu irmão Ali constituiu Antônio Claudio Mariz de Oliveira como seu defensor. Acusações contra o irmão As acusações contra Ali estão centradas numa suposta ameaça que ele teria feito a policiais rodoviários federais, com o objetivo, segundo a Procuradoria da República, de descobrir se seu telefone e o de Herman estavam sendo grampeados. Os arapongas rodoviários foram responsáveis por escutas determinadas pela Justiça Federal em Brasília que flagraram policiais civis e federais cometendo crimes. Entre eles, está o delegado federal Alexandre Crenite, que era auxiliar do corregedor da PF em São Paulo, Dirceu Bertin ? outro acusado de participar do esquema criminoso e que foi afastado na sexta-feira. Crenite foi flagrado pelo grampo em supostas negociações para não cumprir ordens de busca e apreensão e também de prisão contra o empresário Ari Natalino da Silva ? acusado de ser um dos maiores fraudadores de combustíveis do País. Ali chegou a decretar a prisão temporária de Crenite, mas condicionou a decisão sobre o recebimento da denúncia e sobre o pedido de prisão preventiva formulado contra o delegado, ao recebimento de todas as escutas realizadas. Ele garante que apenas cumpriu seu papel. Como juiz natural do processo, ele diz ser obrigatória a entrega de todas as provas. O Ministério Público Federal garante que enviou todas as gravações pertinentes ao caso e que o juiz queria mesmo era saber se estava tendo seus telefones censurados. A outra acusação contra Ali é de dar suporte para a quadrilha. Ele é o juiz responsável pela investigação contra o doleiro Law Kin Chong, suspeito de ser um dos maiores contrabandistas do País. Chong é acusado de ter dado a Rocha Mattos e ao delegado Bellini uma televisão importada para cada um. Defesa O juiz tem ao seu favor as dezenas de busca e apreensão que determinou contra empresas de Chong e a quebra dos sigilos bancário e fiscal determinadas por ele contra o investigado. Ele também rebate com veemência as acusações e diz, assim como Casem, ser vítima de perseguição por parte de procuradores. Por diversas vezes, Ali se emociona ao falar sobre o sofrimento que as acusações tem causado, principalmente à sua família.

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