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Juiz da Satiagraha fala em ''cheiro de corrupção''

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Por Fausto Macedo
Atualização:

O desembargador federal Fausto Martins De Sanctis defendeu ontem em São Paulo o combate rigoroso à corrupção, "mesmo que travestida na obtenção de cargos ou favores ou, ainda, na prestação de serviços não adequadamente justificáveis". Seu recado foi claramente dirigido ao episódio Antonio Palocci, ministro chefe da Casa Civil."Não posso falar especificamente do ministro, mas o que surpreende é que fatos graves, que cheiram corrupção, não são objeto de investigação pela polícia e pelo Ministério Público."Ele protestou contra a paralisia de órgãos de investigação diante de casos que, conforme sua descrição, remetem a Palocci, até aqui livre de ação da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal. "Não podem as pessoas já prejulgarem e falarem que os fatos graves não são delitos. Tem que haver investigação, suspeitas graves de enriquecimento ilícito têm que ser investigadas. Vários casos têm ocorrido, mas está se chegando ao absurdo, ninguém faz nada."De Sanctis é o juiz que, em 2008, no ápice da Operação Satiagraha, mandou prender duas vezes o banqueiro Daniel Dantas e bateu de frente com o ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal, que revogou as duas ordens de custódia contra o dono do Opportunity."O País está à deriva", declarou. "O nosso sistema criminal ruiu, totalmente ineficaz. É um sistema concebido para a absolvição, a liberdade, e tem que ser repensado porque há muitas vezes a necessidade da condenação e da prisão, que é uma necessidade social."De Sanctis disse que vários juízes criminais "estão absolutamente perplexos e desestimulados". "As redes intrincadas de interesses cruzados, escusos e privados, onde quer que estiverem, trabalham de forma organizada." Ele afirmou que "não podem as instituições, por ausência de meios e recursos, ingressarem em estado vegetativo". Disse que é o momento de dizer "basta à corrupção".Ao comentar a frase de De Sanctis sobre "cheiro de corrupção", o criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, disse: "Em 43 anos de advocacia criminal militante jamais ouvi falar de convicção judicial formada por olfato".

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