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Juiz pede prisão de 4 PMs por sumiço de engenheira no Rio

Oficiais são acusados por ocultação de cadáver; dois vão responder também por homicídio

Por Felipe Werneck
Atualização:

O juiz Fábio Uchôa, do 1.º Tribunal do Júri, decretou ontem a prisão de quatro policiais militares acusados de envolvimento no desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro Franco. Os quatro foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por ocultação do corpo da moça e dois deles, pelo assassinato. A decisão foi tomada um ano e dez dias depois de Patrícia ter desaparecido, aos 24 anos, quando voltava para casa, na Barra da Tijuca. Em laudo de 109 folhas, dez peritos concluíram que o carro dela foi atingido por pelo menos três tiros (dois no capô e um no para-brisa dianteiro). Segundo a investigação, um dos tiros partiu da pistola calibre .40 usada por um dos policiais e os outros dois, de armas calibre 380 não identificadas. O corpo da engenheira ainda não foi localizado. São acusados de ocultação de cadáver os PMs Marcos Paulo Nogueira Maranhão, Willian Luis do Nascimento, Fábio da Silveira Santana e Márcio Oliveira dos Santos. Os dois primeiros também foram denunciados sob acusação de homicídio. Todos negam os crimes. Patrícia desapareceu na madrugada de 14 de junho de 2008. O Palio dela foi encontrado batido na margem de um canal, na Barra da Tijuca. A investigação foi concluída pela Delegacia de Homicídios, depois de uma série de controvérsias e contradições durante o período em que ficou sob responsabilidade da 16.ª DP, na Barra, e da Delegacia Antissequestro (DAS). Para o promotor Homero das Neves Freitas Filho, a falta do corpo pode eventualmente dificultar a instrução da ação, mas não impede a denúncia. Segundo ele, a prova técnica é "muito forte". Os dois policiais que estavam de plantão na Barra teriam confundido Patrícia com um criminoso e atirado no carro, que passara em alta velocidade. Desgovernado, o Palio bateu e caiu próximo do canal. A perícia mostrou que os tiros ocorreram antes da batida. Depois, os policiais tentaram destruir provas do crime, segundo a investigação. Um deles teria jogado uma pedra de oito quilos (encontrada no local) no para-brisa, para quebrá-lo e, assim, ocultar uma marca de tiro. PERÍCIA O para-brisa traseiro foi manipulado. Fotos anexadas à perícia mostram parte do insulfilm dobrado no chão e pedaços de vidro reunidos perto dali. Segundo peritos, marcas no cinto de segurança indicam que uma pessoa estava ao volante quando o carro caiu no canal. O banco, porém, estava reclinado e o cinto, afivelado. O corpo, portanto, teria sido puxado pelo banco traseiro. "O MP endossou as razões da autoridade policial. Ofereci denúncia por dolo eventual porque não vi o ânimo de matar, (os dois PMs) não foram atrás da engenheira. Acho que houve uma surpresa e eles atiraram, assumindo o risco de matar. Os (dois) colegas de farda chegaram depois e ajudaram a ocultar o cadáver", disse Homero. "Esses policiais são uns monstros. Eles nunca mais poderiam estar nas ruas, porque vão fazer de novo e outras famílias vão sofrer", declarou o pai de Patrícia, o analista de sistemas Antônio Celso de Franco. Ele disse ainda acreditar que ela possa estar viva. Para o chefe de Polícia, Allan Turnowski, o crime está esclarecido. "Falta achar o corpo." Na decisão, o juiz Fábio Uchôa se referiu à "intensa periculosidade dos acusados" ao justificar o fato de ter aceito a denúncia e decretado a prisão preventiva dos PMs.

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