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Juiz que absolveu Naya é "polêmico"

Por Agencia Estado
Atualização:

A absolvição do deputado federal cassado Sérgio Naya, no processo criminal que apurou as responsabilidades pelas oito mortes no desabamento parcial do edifício Palace 2, no Rio, não foi a primeira decisão polêmica do juiz da 33ª Vara Criminal, Heraldo Saturnino de Oliveira. Naya é dono da construtora Sersan, que construiu o prédio. O acidente foi em 22 de fevereiro de 1998. Quando era titular da 6ª Vara Criminal, o juiz considerou inocentes os 23 policiais civis suspeitos de terem seqüestrado e torturado até a morte o zelador da Fundação Oswaldo Cruz Jorge Antônio Careli, de 30 anos. Em 10 de agosto de 1993, Careli falava de um telefone público da Favela da Varginha, na zona norte do Rio, com a amiga Marly Alves. Eram 20h30 e policiais da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS) faziam uma incursão na favela em busca de seqüestradores. Testemunhas viram quando Careli, dominado por agentes da DAS, foi levado em uma Kombi. Dois agentes da delegacia, cujos nomes não foram divulgados na época, informaram que o zelador havia sido morto e depois queimado pelos policiais da DAS. Mesmo assim, Saturnino de Oliveira absolveu os culpados. "Não há dúvida de que Careli foi espancado e talvez morto por alguns dos réus, mas não logrou a acusação demonstrar quem, dentre os 23 acusados, assim agiu e muito menos conseguiu provar a adesão dos demais à prática ilícita", escreveu o juiz. Seis anos mais tarde, o Estado reconheceu a responsabilidade pela morte de Careli. Oliveira usou discurso semelhante na sentença em que absolve Naya. "A Sersan era seguramente uma má construtora de obras de segunda. Havia também reclamos contra a inércia de Domingues (Sérgio Murilo Domingues, engenheiro que acompanhava a obra, também absolvido) e contra o descaso e a prepotência de Naya. Sem dúvida, um e outro eram desidiosos, e o segundo, ardiloso, embusteiro e prepotente. Mas o prédio não ruiu por isso. E é pelo desabamento que ambos estão sendo julgados." Juiz que não prende "Ele é conhecido como um juiz que não prende. Os advogados de defesa o adoram", diz um advogado, que não quer ser identificado. Durante todo o dia de hoje Oliveira foi procurado pela reportagem, mas a assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça informou que o juiz se recusa a dar entrevistas. Apelação O advogado da Associação das Vítimas do Palace 2, Nélio de Andrade, está preparando a apelação da sentença, que deve entregar até o fim da semana. "Ele (o juiz) alega que não há provas para incriminar Naya, mas nós apresentamos provas de sobra", afirmou. O advogado cita como exemplo o laudo da Pontifícia Universidade Católica, segundo o qual houve dois erros de construção no pilar P17, o primeiro a ruir. As vítimas preparam uma manifestação para o fim da semana. "Recebemos apoio do Brasil todo. Estudantes universitários nos procuraram e estamos combinando fazer uma ampla manifestação", afirmou Rauliete Barbosa Guedes, presidente da associação de vítimas.

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