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Julgamento de Pimenta Neves deve voltar às 09 horas

Nesta quinta, oito testemunhas serão ouvidas

Por Agencia Estado
Atualização:

O julgamento do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves pela morte da jornalista Sandra Gomide foi interrompido às 23 horas desta quarta-feira para os jurados descansarem. A sessão deve recomeçar às 9h30 desta quinta-feira e a expectativa é de que a decisão do júri aconteça à noite. Pimenta Neves ficou dez minutos no banco dos réus nesse primeiro dia de julgamento no Tribunal do Júri de Ibiúna. Nesse tempo, respondendo ao juiz Diego Ferreira Mendes, disse que mora sozinho, não trabalha e é aposentado pelo INSS, mas não revelou a renda. Perguntado se queria falar sobre o assassinato da ex-namorada, a também jornalista Sandra Gomide, disse preferir ficar em silêncio. Nenhuma testemunha foi ouvida, mas a defesa pediu a leitura de depoimentos de amigos e colegas de trabalho de Pimenta. Para o assistente de acusação, Sergey Cobra Arbex, a recusa foi o fato mais relevante do primeiro dia de júri. "Isso demonstra que ele é réu confesso e não tem nada a dizer em sua defesa", disse. "Ele diz que matou por circunstâncias especiais, porque amava. Por que ele não fala isso? Por que não vem aqui hoje e dá essa declaração?" Segundo Arbex, é mais uma prova de que ele "matou por obsessão, e não por amor". Dessa forma, a defesa começou a revelar sua tática: mostrar que o jornalista cometeu o crime em um momento de crise. Nos depoimentos, amigos contaram que, na época, uma das filhas gêmeas havia descoberto ter câncer - as duas tiveram a doença na adolescência -, e o jornalista temia perder a visão. Além disso, argumentaram, ele acreditava ter sido traído por Sandra profissional e pessoalmente. Nesta quinta, oito testemunhas serão ouvidas. Dessas, estão confirmadas duas de defesa e três de acusação. Outras três estão pendentes. Depois, as partes terão duas horas cada para o debate, seguidas por meia hora de réplica e meia hora de tréplica. Estratégia Há quatro anos, Pimenta tenta afastar o motivo torpe (vingança) da acusação e alega ter agido sob violenta emoção. Sandra foi morta com dois tiros, pelas costas, em agosto de 2000, no Haras Setti, em Ibiúna. O jornalista é acusado de homicídio duplamente qualificado - além do motivo torpe, usou recurso que impossibilitou a defesa da vítima (tiros pelas costas). A pena varia de 12 a 30 anos. Pimenta, ex-diretor de Redação do Estado, permaneceu o tempo todo cabisbaixo. Escondeu o rosto entre as mãos diversas vezes e fez movimentos de quem tenta aliviar uma dor de cabeça. Estavam lá uma filha, a irmã e duas sobrinhas. A filha chorou algumas vezes. O comportamento da defesa em plenário foi o mesmo dos últimos anos: recurso atrás de recurso. No início da sessão, a advogada Ilana Müller levantou seis motivos que deveriam provocar o adiamento do júri ou anular o julgamento. Para Mendes, nenhum procedia. Uma das reclamações é de que a defesa não teve acesso ao processo nos últimos dias porque ele estava com o juiz ou o promotor Carlos Sérgio Rodrigues Horta Filho. Mendes disse que Ilana protocolou sete pedidos em seis dias úteis e que, como se aprende na faculdade, o Ministério Público tem de se manifestar em cada pedido antes de a Justiça decidir. Procedimentos Os jurados são novos: 6 parecem ter uns 30 anos. Dos 7, são 4 mulheres e 3 homens. Após o sorteio dos jurados e da tentativa da defesa de adiar o júri, o dia foi quase todo para a leitura de partes do processo. Três peças eram sigilosas e o público teve de deixar o plenário. É possível que sejam relativas a e-mails trocados entre Pimenta e Sandra durante a crise que precedeu o fim do relacionamento. A Justiça protege o sigilo telemático. A leitura das partes do processo tomou praticamente todo o tempo do julgamento, no primeiro dia. Tanto defesa quanto acusação escolheram a leitura das peças do processo para comprovarem suas teses. Em vários momentos, o juiz Diego Ferreira Mendes assumiu as tarefas da leitura para dar um descanso aos seus auxiliares. O dia Pimenta chegou às 8h05 ao fórum. Desceu do carro e caminhou sozinho pela praça até a porta principal. Depois, foi acompanhado pelo advogado Carlos Frederico Müller. O jornalista teve de abrir caminho entre fotógrafos e cinegrafistas e não falou com a imprensa. Entrou em silêncio, ouvindo os gritos de "assassino" das pessoas que se aglomeravam diante do fórum. A praça ficou cheia de gente o dia todo. O aposentado João Gomide, pai de Sandra, chegou um pouco antes, às 8 horas, e entrou pela porta de trás. Ele é testemunha e só vai entrar no plenário para depor. Será a primeira vez que os dois vão se ver desde o crime. "Vamos ver a reação que vai me dar. Pode ser que eu fique muito bom, pode ser que eu fique muito nervoso."

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