Jurassic Parking

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O possuidor de carro antigo é um revolucionário, um inimigo do sistema, guerrilheiro urbano e comedor de criancinhas. Se todos fizessem como ele, substituindo Palios e Corollas por Fuscas e Mavericks, a indústria automobilística iria para o saco e o próprio capitalismo estaria ameaçado. Viva a revolução bolivariana! Viva o Opala, o TL, o Malibu! Viva a estatização da Chrysler e da GM! Carro antigo é um perigo - é a vitória do homem sobre o consumo, do fordismo ao toyotismo. Em Cuba, nosso Jurassic Parking, a coisa só triunfou por causa disso: não há país com maior quantidade de Bel Air per capita em todo o mundo! Essa análise político-mercadológico-sociológico-filosófica, capaz de colocar no chinelo o Demétrio Magnoli, é para dizer o seguinte: o culpado de tudo é o Batistinha. Quando o Batistinha era menino, ele reformou a bicicleta velha ao invés de comprar uma nova. Hoje, aos 40 anos, é o melhor restaurador e "customizador" de carros do Brasil. Não se deveria chamar sua oficina, a Batistinha Garage, de oficina - mas de ateliê. É de lá que saem os mais impecáveis Cadillacs e Mustangs, além de Fuscas, Kombis, Brasílias e até o Galaxie do Biro Biro - não importando em que estado de lata velha tenham ingressado em seu galpão, na Barra Funda, em São Paulo. O mentor intelectual do Batistinha é o pai, hoje com 70 anos - seu Baptista foi um reconhecido restaurador de carros antigos. Era também um aficionado por veículos Ford - dos modelos fabricados entre 1932 e 1953, chegou a ter um exemplar de cada ano. Sua especialidade era dar uma incrementada na mecânica do automóvel. Seu Baptista até hoje faz preparações de motor para a Fórmula Classic e provas de arrancada. Os carros dele sempre foram famosos por boas performances. Enquanto existiu o anel externo de Interlagos, o recorde de velocidade pertenceu a um Maverick quatro portas preparado pelo seu Baptista: 199 km/h, de média. O seu Baptista era fodão. Batistinha foi criado no meio disso aí. Com 12 anos já auxiliava na manobra dos veículos em Interlagos. Aos 18, era motorista do caminhão no quartel do Exército em que servia e piloto de Speed 1600 - categoria em que 60 Fuscas disputavam uma temporada em Interlagos (Batistinha foi campeão em 1989). Mais tarde, depois de passar até pela Fórmula Uno, chegou a piloto da Stock Car, numa época em que corria ao lado de Ingo Hoffmann e Wilsinho Fittipaldi. Há 5 anos, Batistinha abriu a Garage. Um de seus primeiros clientes foi uma senhora que passou 4 anos reformando um Karmann Guia. Batistinha pintou o Karmann de preto, colocou um teto dourado, refez o interior. No dia da entrega do carro, ela ofereceu um coquetel na oficina - quer dizer, no ateliê. Trouxe a família, chorou, fez discurso. É uma revolucionária.

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