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Justiça decreta prisão de ex-titular de Ferraz

Fernando Gomes era subordinado a delegado da cidade preso na terça

Foto do author Marcelo Godoy
Por e Marcelo Godoy
Atualização:

A Justiça decretou ontem a prisão de mais um delegado acusado de envolvimento com a máfia das carteiras. Trata-se de Fernando José Gomes, ex-titular da Ciretran de Ferraz de Vasconcelos. Ele havia sido afastado do cargo em 25 de março. Nos últimos cinco meses de sua gestão, o MPE encontrou provas de que a Ciretran da cidade se tornou uma das mais importantes partes do esquema da organização criminosa. A decisão de mandar prender o delegado foi tomada depois que documentos apreendidos durante a Operação Carta Branca confirmaram as suspeitas dos promotores. Gomes era subordinado ao delegado Juarez Pereira Campos, ex-chefe da polícia em Ferraz, preso na terça-feira. A Justiça decidiu, ontem, prorrogar por mais cinco dias as prisões temporárias dos outros 19 acusados de pertencer ao esquema e bloqueou R$ 208 mil que integrantes da máfia tentaram sacar de uma conta no dia da operação. O dinheiro só não continuou nas mãos da quadrilha porque a instituição desconfiou da movimentação e informou as autoridades a tempo. A conta pertencia a uma empresa ligada à empresária Elaine Gavazzi, que planejou a compra da Ciretran de Ferraz. Ela queria pagar R$ 120 mil para os escalões superiores da polícia, para ter o direito de nomear o delegado da Ciretran. A empresária gabava-se de contatos com um deputado de São Paulo, que a ajudaria a se livrar de investigações até mesmo no interior do Estado, conforme demonstra a conversa que ela manteve com o empresário Sandro Villanova em 7 de dezembro passado. "Eu ligo lá pro deputado de São Paulo. É dois palito. Ele tirou um seccional." Seccional é como são chamados os delegados que comandam a polícia em dada região do Estado. Gavazzi estava disposta a pagar R$ 100 mil para retirar o delegado Fernando Gomes da Ciretran de Ferraz e "trazer de Guará o doutor Renato, que é nosso amigo". Além de usar o esquema de Ferraz, a máfia das carteiras também atuava em pelo menos outras 11 Ciretrans. É o que mostram os documentos e as interceptações telefônicas obtidos pelo Estado. São citadas nas escutas as Ciretrans de Arujá, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Cubatão, Jandira, Mogi das cruzes, Mongaguá, Praia Grande, Ribeirão Pires e Suzano. Médicos, empresários, psicólogos e despachantes comentam em suas conversas onde há esquema para fazer carteiras falsificadas ou onde se pode burlar o esquema de exames médico, teórico e prático. Em uma das conversas, o investigador Aparecido da Silva Santos, o Cido, dá uma bronca em Paulo Luís Batista, o Mongol, funcionário da Ciretran. Mongol tinha a função de corrigir as provas dos candidatos a motorista para evitar reprovações, mas Cido diz que "de cada cinco, quatro estavam erradas". Mongol diz que trabalhava de madrugada. "Eu faço dormindo", diz. "Tá dormindo?", pergunta Cido. "É. Faço de madrugada, filho. Às vezes um ou outro escapa."

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