Kassab completa 100 dias cercado de técnicos, para poder fazer política

Nomes vindos do segundo escalão de antigas administrações tucanas controlam as principais secretarias

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Por Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta
Atualização:

Nos primeiros cem dias do segundo mandato, que se completam hoje, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), deixou claro que não tem projetos inovadores como a Lei Cidade Limpa. O sucesso depende agora do desempenho de novos gestores com a missão de tirar do papel projetos antigos. Com um quadro mais técnico do que político, o núcleo duro do governo é formado por nomes desconhecidos, sem histórico partidário, vindos do segundo escalão das administrações tucanas. "Vejo semelhanças com a gestão do Olavo Setúbal. As novidades não são prioridades porque o prefeito é racional, respeita a instituição. O esforço recai na escolha dos técnicos que vão tirar os planos do papel", afirma o secretário de Negócios Jurídicos, Claudio Lembo, apontado como conselheiro pessoal do prefeito - o que ele nega. Na equipe de confiança de Gilberto Kassab, Alexandre Schneider, secretário de Educação, se consolidou como peça-chave. O tucano já foi assessor na Secretaria da Segurança do governo Mário Covas e adjunto do Planejamento no governo Serra. Ele conseguiu nos últimos dois anos a credencial de bom gestor ao concluir em 30 meses a construção da parte pedagógica de 24 CEUs, bandeiras de campanha do prefeito. Os problemas na rede de ensino, porém, são muitos. Passados dois meses desde o início do ano letivo nas escolas, a Prefeitura não concluiu a entrega dos uniformes escolares, o que deve ocorrer até o fim do mês. Isso sem contar os problemas, herdados do Planejamento, com a licitação das merendas escolares. Schneider também recebeu nesta gestão a tarefa de dar conta da mais cara promessa do segundo mandato: zerar a demanda por 90 mil vagas nas creches. Com perfil semelhante ao do secretário de Educação, estão em alta no governo Manuelito Magalhães, titular do Planejamento e adjunto até o ano passado, e Wagner Aloísio, que somente neste ano virou chefe das Finanças. Amigo pessoal do prefeito, com quem dividiu os bancos escolares na turma de 1981 da Escola Politécnica, o engenheiro Miguel Bucalen, de 48 anos, largou a vida acadêmica atendendo a um pedido pessoal de Kassab na gestão José Serra. Como Schneider e Magalhães, durante o primeiro mandato Bucalen atuou no segundo escalão do Planejamento. Na nova pasta de Desenvolvimento Urbano, ele tem a missão de promover o ordenamento do crescimento da cidade por meio de novas operações urbanas, mantendo sintonia fina com as obras milionárias da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb). O secretário municipal da Saúde, Januário Montone, que veio da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde durante a administração Serra, é outro que sintetiza qualidades valorizadas pelo prefeito. É o homem que sabe dizer não. Como secretário de Gestão, conseguiu adotar a terceirização das AMAs, da merenda escolar e do leite, apesar dos questionamentos judiciais. Na pasta da Saúde, Montone, por exemplo, já chegou a ouvir impassível, por sete horas, as reclamações de um cacique político que lhe pedia prioridade no atendimento aos cabos eleitorais na rede pública. A firmeza em negativas, com base em justificativas técnicas, permite ao prefeito continuar a dizer sim para os aliados, mesmo que a promessa não seja posteriormente cumprida, por decisão dos secretários. FUTURO Quando se fala da sucessão de Kassab, outro nome surge. Os secretários de Subprefeituras, Andrea Matarazzo, e dos Esportes, Walter Feldman, tucanos que no primeiro mandato tinham posição de destaque e eram apontados como "herdeiros políticos", perderam espaço justamente por se lançarem a voos políticos mais altos antes do tempo. Titular das pastas de Serviços e Transportes, com R$ 5 bilhões em contratos para gerenciar, incluindo as concessões da coleta do lixo e do transporte público, Alexandre de Moraes, ex-presidente da Febem e promotor, é o nome da vez. Considerado uma das novas caras do DEM e inflado a candidato futuro, Moraes tem evitado a superexposição, apesar do enorme poder que adquiriu. Ganhou destaque ao enfrentar os problemas de trânsito com medidas polêmicas, como a restrição aos caminhões. Antes de tentar se cacifar, porém, terá a missão de construir 66 km de corredores de ônibus e assegurar R$ 1 bilhão para o Metrô - além de manter até o fim do ano a tarifa dos ônibus em R$ 2,30.

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