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Laço mais frouxo: a situação do casamento como instituição no Ocidente

Três grandes mudanças estão em curso no mundo e envolvem escolha, amor conjugal e divórcio

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Por Redação
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“É empolgante!”, diz emocionada uma jovem, apertando o braço do companheiro. Eles estão diante do centro de exposições Olympia, a oeste de Londres, onde se realiza a National Wedding Show (feira de casamentos). Cerca de 300 comerciantes ali estão para vender tudo o que é necessário para um casamento e muitas coisas mais.

Estudos consecutivos confirmam que pessoas casadas são mais saudáveis, mais ricas e mais felizes do que as não casadas e com menos propensão a se separar de seus parceiros Foto: NDGPhotoWorks/Pixabay

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Com frequência se fala que o casamento está enfermo. Conservadores afirmam que esta instituição antes gloriosa vem sendo corroída por comportamentos cada vez mais indiferentes, como o sexo antes do casamento, a vida em comum antes do matrimônio e o divórcio - e, nos últimos anos, pela legalização do casamento gay. Sob alguns aspectos eles estão certos. Em meados do século 20, o casamento era algo quase inevitável. Em 1972, 87% das mulheres francesas entre 30 e 34 anos de idade estavam casadas. Atualmente apenas 43% das francesas em torno dos 30 anos estão casadas. Na Argentina, os matrimônios se tornaram tão raros que o grupo Falsa Boda começou a encenar festas cujo tema é o casamento, que termina com juramentos fictícios. 

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Este artigo especial dirá que muito do que as pessoas acham que sabem sobre o casamento está incorreto. A instituição vem se transformando em praticamente todo o mundo. Do oeste de Londres até os vilarejos chineses e as favelas da Índia, três grandes mudanças estão em curso. A primeira é que as decisões de casamento vêm sendo tiradas das mãos dos pais e parentes e tomadas pelos próprios jovens. O sinal mais claro disso é o aumento quase universal da idade média do casamento. Ainda há uma grande lacuna entre a Noruega, onde as mulheres se casam em média aos 32 anos, e Bangladesh, onde elas contraem matrimônio aos 19. Mas também há uma diferença crucial entre o casamento aos 19 e aos 16, que era a média em Bangladesh em 1974.

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A segunda mudança é a ênfase no amor conjugal. Durante grande parte da história ocidental, o amor romântico, ou uma “familiaridade”, não era algo necessário para um casamento sólido. William Gouge, escritor puritano influente na Inglaterra do século 19, execrava as mulheres que chamavam seus maridos de “meu amor, queridinho, docinho etc”, termos que para ele debilitavam a deferência própria de uma mulher que é essencial para uma união bem-sucedida. E sua opinião era perfeitamente ortodoxa na época. 

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Hoje o amor é o vitorioso. Os comerciantes da Feira Nacional de Casamentos invariavelmente reportam que todos os casais insistem que seu casamento tem de ser romântico e especial. “Hoje você não precisa se casar”, explica Anna Muckart, que cria convites de casamento esplêndidos. Como o casamento não é mais obrigatório, quando acontece ele tem de ser extraordinário. O casamento deixou de ser um rito de passagem para se tornar uma celebração do amor e do compromisso.

Quando o amor é a razão do casamento, isso significa que um casamento sem amor acaba se desfazendo. A terceira grande mudança global é a crescente aceitação do divórcio. Hoje, ele é mais comum em muitos países, especialmente onde a modernização tem ocorrido mais rapidamente e as mulheres estão se tornando economicamente independentes. Atualmente, na China e na Coreia do Sul, o número de divórcios é maior do que se verifica em média na Europa.

Igrejas e governos com frequência tentam impedir essas mudanças. E no geral eles fracassam. Nos Estados Unidos, estudos financiados pelo poder público concluíram que programas federais destinados a fortalecer o casamento não tiveram resultado. Tentar preservar as uniões dificultando o divórcio simplesmente resulta em menos casamentos. 

Praticamente em toda a parte o casamento vem se tornando menos obrigatório, menos coercitivo e menos considerado um dever. Mas não perdeu sua atração ou seu poder vinculante privado. Uma recente pesquisa feita com jovens britânicos concluiu que 93% deles aspiram se casar. 

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Mesmo em países onde o divórcio é socialmente aceitável, as pessoas ainda acreditam que o casamento constitui um vínculo especial e não é para ser realizado ou desfeito levianamente. Seus efeitos são formulados de modo mais acurado por escritores do que por estatísticos. A vida de solteiro é similar a andar de motocicleta, diz um personagem no livro The Age of Grief, da escritora americana Jane Smiley: você sente cada solavanco na estrada. Um casamento, particularmente quando há filhos, é como um caminhão de 18 rodas acelerado.

Estudos consecutivos confirmam que pessoas casadas são mais saudáveis, mais ricas e mais felizes do que as não casadas e com menos propensão a se separar de seus parceiros. É difícil medir o quanto são assim porque estão casadas e o quanto se deve ao fato de pessoas felizes, saudáveis em relações sólidas estarem mais inclinadas a se casar, em primeiro lugar. Mas acadêmicos que tentaram checar essas variáveis ainda tendem a encontrar um efeito do casamento sobre o indivíduo. O casamento parece aumentar a felicidade humana, mesmo admitindo o fato de muitos casamentos desmoronarem.

Vantagens

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Nos países ricos, a instituição do casamento propicia cada vez mais vantagens a pessoas que já possuem muitas. Homens e mulheres abastados, com educação superior, casam-se tarde e após uma cuidadosa reflexão. Seus casamentos são afortunados - em média são os mais felizes e mais gratificantes que o mundo já viu. Dentro desse grupo privilegiado, o divórcio é mais raro. No Ocidente essa classe de pessoas casadas tem uniões tão sólidas como as encontradas em países mais pobres.

Para muitos outros, contudo, o casamento estaria ficando mais distante. Os membros da classe operária estão cada vez menos inclinados a se casar do que os da classe média e, quando se casam, a união tende a acabar mais rapidamente. Muitos ainda sonham com um casamento, mas que deve ocorrer em algum momento no futuro, ou talvez nunca. 

© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR TEREZINHA MARTINO, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM