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Leilão de Abadía atrai público menor

Na platéia, estavam principalmente convidados; superbazar, que terminou ontem, faturou R$ 200 mil

Por Rodrigo Pereira
Atualização:

Ao contrário do tumultuado superbazar, o leilão promovido ontem para a venda de bens do megatraficante Juan Carlos Ramirez Abadía e de sua mulher, Yéssica Paola Rojas Morales, atraiu público menor que o esperado. Senhas e lugares sobraram no Jockey Club de São Paulo. O público, no entanto, formado principalmente por convidados, demonstrou poder de compra e indiferença ao fato de os artigos terem pertencido ao colombiano. Mais disputado que o leilão, o superbazar, também no Jockey Club, que chegou ao fim ontem teve faturamento estimado de R$ 200 mil. O fim das vendas estava previsto para domingo, mas, em apenas dois dias, todos os pertences foram vendidos. Entre os produtos oferecidos no leilão, estavam cem relógios, 3 bicicletas de alta performance, 2 jipes dos anos 1960 e 1970, 20 canetas de luxo e 3 televisores gigantes. Os arrematadores pagaram valores próximos aos lances mínimos estipulados judicialmente, em 30% do valor de mercado. Os veículos, no entanto, foram vendidos por valores superiores aos lances mínimos. O jipe Willys Overland, ano 1979, foi arrematado por R$ 27.800 e a Ford Rural Willys, ano 1961, por R$ 37 mil. "Achei bonito e gostei dos equipamentos", disse o empresário de 46 anos, que comprou a Rural e pediu anonimato. "Não estou nem aí para o Abadía." Até as 22h30, o item mais caro arrematado foi um relógio Audemars Piguet, arrematado por R$ 41 mil, com valor de mercado de R$ 60 mil. Como no bazar, o leilão foi limitado a 425 pessoas, com distribuição de senha. Antes do evento, foi feita uma preleção para averiguar quem tinha condição financeira para participar. Parte do dinheiro arrecadado será repassado a entidades assistenciais cadastradas na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que condenou o traficante, e outra parte será depositada em uma conta da União até que não se caiba mais recurso. Com estrutura montada para durar seis dias, o bazar ficou marcado pela grande procura. A Polícia Federal, com apoio de cem policiais militares, só conseguiu conter os potenciais compradores no portão do Jockey com o uso de gás pimenta. Mesmo ontem, com apenas 15% dos bens ainda disponíveis, a procura foi intensa e todas as senhas foram distribuídas. "Esse comportamento nem é sociológico, é patológico, um negócio de louco", avaliou o presidente da Fundação Julita, Lucien Delmonte, que comandou o bazar e o leilão. Especializado em organizar bazares beneficentes, Delmonte disse que foi o apelo da imagem do traficante, e não o valor estipulado pelo juiz Fausto Martin De Sanctis às peças, o responsável pelas filas. "São aparelhos usados e sem garantia, não se vende por valor maior que 30% de um novo no mercado." EXAGERO O advogado de Abadía, Luiz Gustavo Bataglin Maciel, disse ontem que seu cliente reconheceu a origem ilícita de seus bens desde que foi preso e nunca se opôs a perdê-los, mas estranhou a venda de pertences íntimos. "É incomum vender cuecas", afirmou Maciel. "Ele já tinha entregado mais de R$ 3 milhões em notas de real, dólar e euro que a Polícia Federal nunca encontraria se ele não apontasse onde estavam." O advogado protestou por De Sanctis não reconhecer a colaboração de Abadía e, além de decretar 30 anos de prisão, manifestar-se contrário à extradição do colombiano.

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