Leitores responsabilizam modelos por casos de anorexia

Resultado da enquete feita pelo Portal Estadão mostra que internautas culpam também os empresários da moda; o tema, polêmico, dividiu bastante as opiniões

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para leitores do Portal Estadão, as próprias modelos e os empresários da moda são os maiores responsáveis pelos casos de anorexia no mundo das passarelas. Mas o tema, polêmico, dividiu bastante as opiniões dos internautas que participaram da enquete "Quem você acha que é o maior responsável pelos casos de anorexia entre modelos?". Grande parte dos participantes responsabiliza também as agências de modelos. A enquete foi lançada após a morte, na terça-feira, da top brasileira Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, vítima de anorexia nervosa. Nesta sexta, o assunto voltou a esquentar com a notícia da morte da estudante de moda Carla Sobrado Cassalle, de 21 anos, em Araraquara, interior paulista. A jovem, que cursava a Faculdade Anhembi Morumbi, foi internada no Hospital Beneficência Portuguesa após sofrer duas paradas cardíacas decorrentes de anorexia. Para a maior parte (27,36%) dos 2.047 leitores que se manifestaram na enquete, as próprias modelos são as grandes culpadas da história. Com apenas 20 votos a menos e 26,38% do total das respostas, estão os empresários do setor. Em terceiro ficaram as agências, com 23,5% dos votos. Em quarto lugar na enquete, com 11,82% dos votos, ficaram as famílias das modelos, e 10,94% dos leitores consideram os estilistas os maiores culpados. "Eles acham que para ficar bem em suas roupas é preciso ser muito magra, e isso acaba iludindo as meninas desse ramo que fazem tudo o que for preciso pra ficar esqueléticas, para atender o padrão", disse Jaqueline Vieira. Modelos com problemas Para Adriana Rodrigues Costa, "a modelo é, ou melhor foi a única responsável pelo que aconteceu. Ela mesma se achava gorda, então trata-se de uma pessoa com sérios problemas". Nilo Lima foi um dos internautas que responsabilizou os empresários: "São os maiores culpados (...). Por que não criam a modinha da decência, do saudável, da beleza natural, da educação, da religião?", atacou o leitor. Oswaldo Wagner Roschel achou difícil optar por um grande responsável. "Todas as opções, cada um com sua parcela, têm responsabilidade sobre o ocorrido. No fim, a maior parcela fica para quem não tem mais como se defender - a própria modelo", expressou ele. Caso brasileiro estimula debates A morte de Ana Carolina, na última terça-feira, trouxe de volta à mídia o debate sobre a anorexia, um distúrbio alimentar que atinge principalmente as mulheres, principalmente as que trabalham em atividades relacionadas à imagem, como as modelos. O que acontece é que, mesmo estando magra, a pessoa considera que está acima do peso e, por isso, deixa de comer para emagrecer. A jovem tinha cerca de 40 quilos e 1,74 metros de altura e um Índice de Massa Corporal (IMC) de apenas 13,2, quando o ideal é 18,5, de acordo com a Organização Mundial da saúde (OMS). Para calcular o índice, divide-se o peso pela altura ao quadrado. A menina deveria pesar pelo menos 57 quilos para estar saudável de acordo com o índice. Ana Carolina, internada desde 25 de outubro com insuficiência renal, foi enterrada no cemitério de Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo. Jornais estrangeiros como o The Independent, The Times, El País e The New York Times noticiaram a morte da jovem brasileira, lembrando que o debate sobre a anorexia no mundo da moda já havia sido retomado em agosto, com a morte da top uruguaia Luisel Ramos durante desfile em Montevidéu. Carreira Nascida em Jundiaí, numa família de classe média, a modelo brasileira sonhava em ser modelo desde criança. Após vencer um concurso realizado no interior, foi "descoberta" por uma olheira de agência e começou a trabalhar com 13 anos. Ana Carolina era da L´Equipe Agence desde julho de 2005. Na época, a modelo estava no México, sem emprego e com dificuldades financeiras. Ela começou na L´Equipe por intermédio de uma parceira mexicana, Skol Models, que avisou que a modelo estava magérrima. "Disseram que sua magreza tinha a ver com o período difícil que ela passou lá, sem emprego", disse Lica Kohlrausch, dona da L´Equipe. A agência soltou um longo comunicado na quinta-feira, explicando como era a relação que mantinha com Ana Carolina. Após três meses, Ana foi enviada ao Japão, mas, num dos primeiros testes, desmaiou. Voltou para o Brasil para ficar com a mãe, Miriam Reston. "A L´Equipe ofereceu tratamento", disse Geise Strauss, prima de Ana. Mas a modelo que, segundo a prima, não apareceu nas consultas. Geise revelou que a menina comia pouco e, logo depois, ia para o banheiro (provavelmente vomitar o que havia ingerido), segundo entrevista publicada no jornal Folha de S. Paulo, e disse que o que a prima comia principalmente maçãs e tomates. Mãe faz apelo em rede nacional Em um apelo dramático, a mãe da modelo, Miriam Reston, de 58 anos, pediu aos pais que "se preocupem com suas filhas e não cometam o mesmo erro que cometi, porque a perda é irreparável". "Ela me pediu para que não a forçasse a comer e eu não a obrigava", disse em prantos Miriam, durante entrevista ao Jornal Nacional de quarta. "Espero que a história sirva de lição", acrescentou. Ela também criticou as agências de modelos. "Que cada agência que empregou minha filha pergunte em sua alma e em sua consciência o que poderia ter feito por ela", desabafou.

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