Leitura do mercado para caso Carrefour parece ser de que sociedade não se importa, diz economista 

Alta das ações da empresa no dia seguinte ao assassinato de João Alberto aponta que investidores veem como remota a chance de prejuízo para rede de supermercados por causa da tragédia

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Por Vagner Aquino
Atualização:
Protesto na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, contra o assasinato de homem negro em Porto Alegre Foto: EFE/Antonio Lacerda

O brutal assassinato de João Alberto Freitas, de 40 anos, espancado por seguranças no Carrefour parece não ameçar o lucro da empresa. Na sexta-feira, 20) um dia após o crime, as ações do Carrefour acompanharam a alta de outras empresas e subiram 0,49%. "De certa forma, a leitura do mercado financeiro para o caso do Carrefour parece ser de que a sociedade não se importa", diz o economista Pedro Fernando Nery.  "É uma informação triste, que revela um racismo enraizado na sociedade. Como o valor na Bolsa reflete o lucro que se espera de uma empresa, a alta sugere que não haverá alteração relevante nos resultados financeiros (do Carrefour)", explica Nery, professor do IDP e colunista do Estadão. Ele aponta, aliás, que os supermercados têm motivos de sobra para comemorar 2020. "Imunes a lockdown, ganharam com fechamento de restaurantes, com a prática do home office, e se beneficiaram, ainda, com os R$ 600 (do auxílio emergencial)". Em protestos desde a sexta-feira, manifestantes têm pedido boicote às lojas da empresa. Para Nery, os consumidores não se importam vão esquecer ou não têm recursos para gastar em supermercados concorentes, que podem ser mais caros ou mais distantes. "Em tragédias que têm reflexo financeiro para empresas, por exemplo um acidente com consequências para o meio ambiente que vai gerar multas, a ação reflete", explica ele.Outros casos que envolvem mortes em supermercados Em 2008, em Osasco (SP), um cliente negro foi espancado no estacionamento do supermercado Extra porque seguranças acharam que ele estava roubando o seu próprio carro. Em agosto último, uma loja da mesma rede no Recife (PE), foi palco da morte de um homem que sofreu ataque cardíaco. O estabelecimento, porém, continuou funcionando normalmente até a chegada da perícia. Outro caso bastante repercutido foi a morte de uma cadela vira-lata, também provocada por um segurança, em novembro de 2018. O crime aconteceu, inclusive, em um supermercado localizado em Osasco, na Grande São Paulo.

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