Líderes do PCC tentam controlar presos

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Por Agencia Estado
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Os líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) mantiveram contato por telefone celular com várias unidades prisionais, hoje de manhã, com o objetivo de tentar controlar os detentos e evitar rebeliões no carnaval. Eles temiam que grupos de presos reagissem contra a proibição de visitas em 13 prisões e provocassem a reação da polícia. Participaram das conversas Alcides Sérgio Dellassari, mais conhecido como "Blindado", um dos homens fortes do partido do crime, que está na Penitenciária de Iaras, no interior do Estado, e representantes da facção nos Presídios de Marília, Araraquara e Tremembé, na Casa de Detenção e na Penitenciária do Estado, estas duas últimas no Complexo Penitenciário do Carandiru, zona norte de São Paulo. Da Penitenciária do Estado, os presos conhecidos como "Gulu" e "Tio" organizaram os contatos. Eles assumiram a chefia do partido na prisão, após a transferência de Marcos Herbas Camacho, mais conhecido como "Marcola", para o Rio Grande do Sul . "Mantive contato com a maioria dos integrantes do sistema. Conversei com o pessoal do partido e a ´faxina´ (presos com trânsito livre nas cadeias, responsáveis pela limpeza e distribuição de comida) dos Pavilhões 7, 8 e 9 (da Detenção). O pessoal está mantendo a paz", disse "Tio". O Comando da Polícia Militar confirmou que a situação se manteve tranqüila nas prisões até a tarde de hoje. "As informações que recebemos de todo o Estado e, principalmente, da capital é que tudo está calmo", disse o coronel Osvaldo de Barros Júnior, chefe do Comando de Policiamento de Choque (CPChoq). Os 3 mil homens da CPChoq estão aquartelados, de prontidão para o caso de ocorrerem rebeliões nas cadeias como o motim de semana passada. Pela manhã também, líderes do PCC afirmavam querer dialogar dentro da lei. "Agora, a gente vai conversar sobre os nossos direitos, os benefícios que nos são negados. A sociedade tem que saber que os gravatinhas roubam e não vão para a cadeia. Nós queremos, agora, tudo dentro da lei. Nosso diálogo será no papel", disse "Tio". Novos manifestos - O partido deverá soltar novos manifestos, como o divulgado ontem por meio de telefone celular. Feito na Penitenciária do Estado, ele cobra do governo o cumprimento da Lei de Execuções Penais, que determina as condições em que os presos devem ser mantidos na prisão. Cita dois juristas, Júlio Fabrini Mirabetti e Renê Ariel Dotti, além do líder revolucionário Ernesto Che Guevara. "Queremos saber onde está o nosso material esportivo", disse "Tio". Segundo ele, o Estado deve trazer mais empresas ao sistema para que todos os detentos possam trabalhar, principalmente nas grandes prisões, como as do Complexo do Carandiru. Encarregado pelos chefes do partido de escrever o manifesto, o preso N. H. voltou a insistir na necessidade de o Estado construir prisões com celas individuais para o cumprimento da pena. Além dessas reivindicações, o PCC ainda quer o retorno de cinco dos chefes, que foram isolados no Centro de Readaptação Provisória (CRP), presídio de segurança máxima anexo à Casa de Custódia e de Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP). No dia 16, cinco presos foram retirados da Casa de Detenção e levados para o CRP, entre eles, Idemir Carlos Ambrósio, mais conhecido como "Sombra". A medida foi uma resposta ao assassinato de cinco homens na Detenção, ocorrido dia 13, a mando do PCC. O partido exige a desativação do CRP e a mudança da diretoria da Casa de Custódia. "Hoje, nós estamos arrumando a cadeia para receber visita no próximo fim de semana", disse N.H. Neste fim de semana, 13 dos 25 presídios que tiveram motins no último domingo, numa ação promovida pelo PCC, tiveram as visitas suspensas pelo governo, que alegou razões de segurança por causa dos danos ocorridos nas unidades. Além das penitenciárias, duas cadeias públicas e dois distritos policiais também participaram do movimento, espalhado por 22 cidades. Ao todo, 20 pessoas morreram na maior rebelião carcerária da história do País. Cerca de 25% dos 94 mil presos paulistas participaram da revolta no dia de visita, mantendo os familiares como reféns. "Nós havíamos conversado com todos os presos aqui, no Carandiru, antes de levantar o sistema", disse "Tio". Por isso, ele disse não temer uma reação dos demais detentos contra os membros do partido por causa da proibição das visitas. "Não íamos pôr em risco os nossos parentes. Eles não quiseram sair da cadeia com medo que o (a Tropa de) Choque entrasse e ocorresse o que houve em 1992." Naquele ano, quando o governador era o atual deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB), unidades da Tropa de Choque entraram no Pavilhão 9 da Detenção para controlar uma revolta e mataram 111 presos. Arrecadação de dinheiro - Segundo os chefes do partido, a facção está arrecadando dinheiro para entregar à família da menina Ingrid Ferreira Gama, de 3 anos, ferida por uma bomba de efeito moral, numa tentativa da Polícia Militar de retomar o controle da Penitenciária do Estado durante o motim.

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